Roya Mahboob: mudando vidas afegãs através da tecnologia

Roya Mahboob: mudando vidas afegãs através da tecnologia

Roya Mahboob é uma das primeiras mulheres CEOs na área de tecnologia da informação no Afeganistão, um país onde apenas 3% das mulheres acima de 25 anos tem qualquer nível de ensino formal completo. A primeira startup em que ela atuou como CEO foi fundada por ela mesma em 2010, a Afghan Citadel Software Company (ACSC), que é focada em serviços de desenvolvimento de software e possui sua sede em Herat, a terceira cidade mais populosa do país. Dentre as suas iniciativas, Mahboob utilizou do lucro da sua empresa para investir na educação digital de mulheres e crianças de países em desenvolvimento, mesmo sofrendo ameaças do Talibã por isso.

A empresária nasceu em 1987 em Herat, mas teve de deixar o país com sua família, devido à invasão soviética, para então viver no Paquistão e, em seguida, no Irã, um país marcado pelo conservadorismo. Em 2003 retornou à Herat, onde usou um computador pela primeira vez. Isso ocorreu numa Lan House da cidade, na qual o atendente insistiu que era um lugar apenas para garotos, mas, com sua persistência, Roya o convenceu a deixá-la entrar. Lá ela abriu os olhos para um mundo de possibilidades, o que a levou mais tarde,no mesmo ano, a se matricular em cursos de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) oferecidos para mulheres pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. Dois anos depois, ela se matriculou num bacharelado da área de TIC na Herat University, no qual coordenou alguns projetos da área até se formar em 2009.

Com um investimento de 20 mil dólares, Mahboob fundou em 2010 a ASCS junto de dois colegas da universidade com o objetivo de criar empregos para recém graduados da universidade, principalmente mulheres na área crescente do mercado digital no Afeganistão. A empresa desenvolve softwares de acordo com os requerimentos específicos de seus clientes, sendo eles universidades, ministérios do governo e empresas internacionais no país. Alguns de seus projetos incluem auxiliar um hospital de Herat a mudar de registros em papel para digitais, e, também, a implementação de internet confiável na Herat University. Sendo uma empresa nova num mercado competitivo, a ASCS teve de lidar com constantes desafios de gerenciamento, lucro e pressão.

Na revista TIME de 2013, Roya Mahboob foi nomeada como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pelo seu trabalho em criar salas de aulas virtuais em escolas no Afeganistão e pela criação do Women’s Annex, uma plataforma online onde mulheres de seu país, e da Ásia Central, poderiam contar suas histórias ao mundo.

Sua experiência com tecnologia a inspirou a usar o lucro de sua empresa para abrir  portas para outras mulheres e garotas afegãs. Foi aí que ela fundou o Digital Citizen Fund(DCF), uma organização sem fins lucrativos que tem a missão de apoiar mulheres e garotas a ganharem acesso a tecnologia e a educação necessária para que possam obter independência financeira. Nos centros de treinamento da DCF, as estudantes são introduzidas ao básico de literatura digital e financeira, seguido por aulas de programação e de redes sociais. Em 2016, cerca de 2400 garotas participavam das aulas por ano,  ainda sim, a empresa visava ampliar o projeto primeiro para áreas rurais, e depois para outros países.

Devido a suas iniciativas, Mahboob sofreu ameaças do Talibã, que diziam que se ela não parasse, iria ser morta. Isso a forçou a abandonar o país em 2014, e dali partiu para Nova York. Lá, embarcou na criação de dois projetos: EdyEdy, uma plataforma de treinamento vocacional, e Digital Citizen Brew, companhia voltada para exportação de café e chá do Afeganistão para os Estados Unidos e para o Oriente Médio. Com o lucro dessas empresas, ela continuou investindo no DCF apesar das ameaças.

Para Mahboob, suas atitudes compartilham suas experiências, que mostraram que o mundo pode ser bem maior do que foi contado a ela: “Em qualquer país conservador as mulheres não são iguais. Tecnologia pode mudar isso – mudou minha vida”.

Dentre suas iniciativas, uma das mais recentes foi a criação da Afghan Girl Robotic Team, também conhecida por Afghan Dreamers, em 2017. A equipe de robótica composta inteiramente de garotas de 12 a 18 anos já participou de diversas competições ao redor do mundo e demonstrou sem potencial em projetos como a criação de ventiladores de baixo custo a partir de componentes de carro para pacientes de COVID-19. Recentemente, receberam atenção mundial na sua agonizante espera para que conseguissem fugir de Kabul em 2021, após a cidade ser tomada pelo Talibã. Em entrevista à BBC, as participantes da equipe demonstraram preocupação pelas companheiras que permaneceram no país. Apesar dos anseios, o grupo continua focado e dedicado em seus projetos. Segundo Mahboob: “Esse é um novo capítulo, eu sei que isso será difícil, e desafiador. Mas não significa que devemos desistir.”

Fontes:

Texto por: Gustavo Elias Cândido

Gustavo Candido