Especial – Pré-sal: passaporte para o futuro?

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Do fundo do mar – mais precisamente, das profundezas da camada pré-sal –, emerge a constatação: o Brasil apresenta-se, na segunda década do século 21, como um dos principais eldorados para os investimentos no setor petrolífero. Entre 2000 e 2010, as reservas provadas de petróleo e gás natural brasileiras avançaram 68,5%, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), passando de 9,854 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) para 16,609 bilhões. Na última década, o Brasil também conquistou a liderança global em descobertas de novas reservas,  segundo levantamento da consultoria internacional IHS Cera. Considerando volume e número de poços com mais de 1 bilhão de barris, 11 das 35 maiores descobertas globais se deram no País, que superou inclusive nações do Oriente Médio, tradicionalmente reconhecidas por abrigar as maiores jazidas do planeta.

“O pré-sal é um divisor de águas para o Brasil. Tem potencial para se tornar um grande diferencial em termos de adição de reservas e crescimento da produção futura. Em muitos aspectos, os astros estão se alinhando para o País e, claro, para a Petrobras. Ancorado no sucesso da companhia, o Brasil está pronto para reforçar a sua posição como líder em tecnologia de águas profundas e um importante exportador de petróleo”, acredita John Robinson West, fundador e atual CEO da renomada consultoria PFC Energy.

Em um contexto em que as principais companhias mundiais enfrentam dificuldades em encontrar novas jazidas, o pré-sal faz o Brasil caminhar na direção contrária. De acordo com os dados da ANP, os indícios de hidrocarbonetos informados pelas petroleiras que atuam no País chegaram a 960 na década passada. Somente entre 2005 e 2010, estes informes dobraram: passaram de 75 para 149 por ano. Embora muitos deles não revelem necessariamente reservas comercializáveis, o ritmo acelerado de novos achados serve como um termômetro do crescimento do setor. Embora o Brasil ainda esteja bem longe dos países árabes, tudo leva a crer que deve rapidamente se aproximar das primeiras posições. O otimismo se sustenta ainda mais levando-se em conta que a maior parte das descobertas do pré-sal ainda não foi contabilizada entre as atuais reservas  provadas. O volume total estimado só dos campos de Libra e Franco pode chegar a 13 bilhões de barris, de acordo com avaliação da certificadora Gaffney, Cline & Associates, contratada pela ANP para avaliar as acumulações do pré-sal – praticamente o mesmo que a Petrobras descobriu nas áreas já licitadas pela União.

Maior achado petrolífero já encontrado no Brasil, o prospecto de Libra pode conter de 3,7 bilhões a 15 bilhões de barris, sendo mais provável um total de 7,9 bilhões. Outras  descobertas ainda em fase de testes pela Petrobras, como as áreas de Lula e Cernambi (reservas estimadas de 5 a 8 bilhões de barris), Iara (estimativa de 3 a 4 bilhões) e Guará (cerca de 1 bilhão a 2 bilhões), bem como outros campos do pré-sal localizados na Bacia de Campos (com estimativas entre 1 e 2 bilhões), tiveram, até agora, apenas uma pequena parcela incluída entre as atuais reservas provadas. “Acredito que o Brasil desempenhará um papel cada vez mais importante no mercado global de energia. Baseados em nossos números, podemos dizer que será o terceiro país mais importante em termos de crescimento de oferta até 2035, atrás apenas da Arábia Saudita e do Iraque”, diz Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), corroborando as palavras de West.

O potencial brasileiro para petróleo e gás natural, no entanto, não se restringe ao pré-sal nas Bacias de Santos e de Campos. Produzido pela ANP, o “Plano Plurianal de Estudos Geológicos e Geofísicos” mostra outras fronteiras exploratórias. “Uma das áreas de maior potencial é a chamada Margem Equatorial, que vai da Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte, até a foz do Rio Amazonas, região análoga à costa oeste africana, onde recentemente houve grandes descobertas de petróleo. As bacias brasileiras da margem equatorial podem apresentar potencial similar ou até superior às africanas”, acredita Haroldo Lima, diretor-geral da ANP.

Onde está o pré-sal?
O termo pré-sal refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções marinhas de grande parte do litoral brasileiro, com potencial para geração e acúmulo de petróleo. É chamado de pré-sal porque forma um intervalo de rochas que se estende por baixo de uma extensa camada de sal, que em certas áreas da costa atinge espessuras de até 2.000m. a distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal pode chegar a mais de 7 mil metros. As maiores descobertas de petróleo no Brasil foram feitas pela Petrobras na camada pré-sal localizada no litoral entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo, a uma distância de cerca de 300 quilômetros da costa.

Qual o potencial do pré-sal?
O pré-sal pode permitir ao Brasil se tornar um dos principais produtores mundiais de petróleo e gás natural. Somente a Petrobras tem planos de produzir 3,95 milhões de barris de óleo por dia no Brasil em 2020, sendo 1,078 milhão de barris provenientes
do pré-sal.

Leilões do pré-sal

A realização do leilão do Campo de Libra, o primeiro dos campos do pré-sal a ser leiloado, tem sido alvo de muitas contestações e protestos pelo Brasil. Durante a realização do leilão, em 21 de Outubro de 2013, muitos grupos militantes e ativistas realizaram protestos nas redondezas do evento, que contou com uma mobilização militar realizada pela Força Nacional de Segurança. Com isso, houve alguns confrontos entre policiais e manifestantes.

Outra ação em protesto ao leilão do Campo de Libra (e, consequentemente, aos demais campos que também deverão ser leiloados) foi uma greve organizada pelos trabalhadores petroleiros. Eles conseguiram paralisar plataformas de exploração de petróleo da Petrobras em mais de 12 estados do país, em defesa da argumentação de que o petróleo somente deve ser explorado pela estatal brasileira.

Apesar dos protestos, o leilão foi realizado na dada prevista, tendo como vencedor um consórcio formado pela própria Petrobras, além de duas empresas chinesas (CNPC e CNOOC), uma Anglo-Holandesa (SHELL) e uma francesa (Total). Essas empresas terão, agora, o direito de explorar aquele que, segundo previsão, deve ser o maior campo de petróleo do pré-sal, com uma reserva aproveitável de 12 bilhões de barris de petróleo.

E quais serão as regras de exploração do Campo de Libra?

Apesar de contar com apenas 10% de participação no consórcio vencedor do Campo de Libra, a Petrobras realizará 40% das explorações. Isso porque o edital do leilão garantia que a estatal participasse com 30% das atividades, além daquelas que eventualmente conseguisse arrematar. Esse ponto desagradou profundamente as posições que defendiam que a exploração fosse realizada por empresas privadas, mas também não agradou aqueles que defendiam que a exploração fosse realizada apenas por empresas públicas.

 

Energias fósseis – Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente executivo do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras, falou sobre as investigações para exploração do pré-sal e avaliou que esta etapa preliminar já foi realizada. Hoje, sua gerência tem a responsabilidade de implantar e retirar os recursos petrolíferos e gases do subsolo.

Sua palestra focou na demonstração de como o pré-sal está disposto ao longo da costa brasileira. A província do pré-sal, área que se estende do sul do Espírito Santo até o litoral paulista, variando as espessuras das camadas e os volumes do petróleo, possui atualmente 171 poços em exploração. A Bacia de Campos (RJ) é a região com maior área territorial, mas em camadas mais profundas a serem perfuradas. Hoje a exploração é mais rápida. “Reduzimos de 134 dias (2006) para 50 dias (2013) este tempo”.

O governo tem conhecimento de que a matriz brasileira deve seguir a trilha da sustentabilidade e, portanto, continuará a incentivar a expansão das energias renováveis. A Petrobras tem se dedicado a se tornar maior sem ameaça às energias limpas, garante Fraga, que também informa que há incentivos às pesquisas nesta direção.

 

Fonte: Petrobras, Brasil Escola, Carta Capital

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