Rondon Marques Rosa, a tecnologia no processo de aprendizagem na Pandemia.

Rondon Marques Rosa, graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo (UNI-BH), especialização em Comunicação: Novas Tecnologias e Hipermídia (UNI-BH), mestre pela Universidade Federal de Ouro Preto e atualmente é doutorando em Psicossociologia das Comunidades e Ecologia Social pela UFRJ.

1)  Rondon, como foi o processo de escolha do curso de jornalismo e como foi quando decidiu se dedicar ao professorado e à educação ?

A Comunicação surgiu muito cedo em minha vida, mas, inicialmente, acreditava que a melhor escolha de carreira seria a Publicidade e Propaganda, já que tinha um interesse especial pelas peças publicitárias, além de alguma habilidade com o desenho e a discussão estática conceitual. Nos primeiros períodos tive a oportunidade de conhecer melhor o Jornalismo e acabei migrando de curso. Quando me formei, fui chamado para trabalhar na TV TOP Cultura em Ouro Preto, onde recebia estagiários do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), acompanhando todas as etapas de produção da reportagem diária. O processo de orientação me mostrou a minha habilidade didática e fui convidado a integrar a equipe de professores do curso de Jornalismo da Unipac de Conselheiro Lafaiete. A docência e o trabalho em uma TV educativa se aproximaram ainda mais quando fui convidado a assumir a coordenação do setor de Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto, tendo entre os projetos a criação da TV UFOP. A possibilidade de interlocução dos dois campos do conhecimento me levou a estudar melhor a produção da comunicação educativa no mestrado, o que continuo pesquisando no doutorado.

2)  Na nossa live abordamos o tema “Dificuldades do ensino remoto e o uso da tecnologia para aprendizagem”. Quais as principais dificuldades do ensino remoto você citaria?

A imposição do distanciamento social feita pela pandemia da Covid-19 colocou um holofote nessa discussão da integração das tecnologias de informação e comunicação nas atividades pedagógicas. Os problemas envolvidos estão presentes em todos os níveis de envolvimento com o sistema educacional. Entre as diversas questões, podemos apresentar cinco: a) não existe a implantação consistente de uma política de disseminação do acesso tecnológico de forma ampla no país, sobretudo nas instituições de ensino, mesmo que esse seja um tema recorrente nos projetos de governo e nos indicativos de organismos internacionais; b) por consequência, as instituições públicas não possuem estrutura adequada e, quando conseguem o mínimo, são alvo frequente de furtos e depredações; c) as instituições privadas buscam a otimização dos ganhos o que sempre tende à opção pelo menor custo, reduzindo sempre que possível o quantitativo de profissionais substituídos pela tecnologia, em detrimento de um processo de integração das pessoas com os recursos; d) os docentes não possuem a vivência adequada de uso das tecnologias, o que facilitaria a busca de alternativas para o melhor uso dos recursos no processo de ensino/aprendizagem. Esse distanciamento pode ser causada por questões financeiras, de falta de motivação, da ausência de estrutura, do excesso de atividades para manter o padrão de renda, além de diversas outras; e e) os estudantes, mesmo os que já nasceram em uma geração reconhecida como nativos digitais, são incentivados para a apropriação dos meios digitais, majoritariamente, como recurso de entretenimento. Esse incentivo, cria uma lógica de aproximação das questões lúdicas com princípios fúteis e de mero consumo, ao contraponto que os usos educativos são tratados como maçantes.

3)  Você vê a pandemia como causa ou apenas reveladora de uma desigualdade de acesso às tecnologias?

As tecnologias tendem a ampliar a potência de atingimento de seus efeitos, podendo agilizar contatos, aproximar distância, ampliar oportunidades e amplificar a visibilidade. No entanto, essa capacidade de produzir bons resultados também é verificada no sentido inverso. Ter ou não acesso e conhecimento sobre as possibilidades de uso pesam na balança de uma forma ainda mais intensa que nas relações sociais estabelecidas presencialmente. Dessa forma, a pandemia e o condicionamento do uso das tecnologias como intermediação do ensino revelaram e intensificaram o abismo social já existente, o que será sentido de forma ainda mais explícita nos próximos anos.

4)  Rondon, você saberia como mensurar os impactos da Pandemia para a educação e quais os novos rumos da educação?

A mensuração dos impactos é difícil neste momento, tanto por ainda estarmos no processo, o que nos dificulta perceber claramente os efeitos, quanto pela falta de levantamentos e disponibilização de dados claros, por parte dos entes de gestão nos três níveis (federal, estadual e municipal). Somente o compromisso de acompanhar e discutir soluções de forma conjunta poderia minimizar os impactos, encontrando soluções de acordo com os desafios localizados. Não sendo possível esse acompanhamento, nos resta acreditar que tenhamos aprendido pelo menos um pouco com a condição que nos foi imposta e saibamos integrar melhor essas atividades de forma permanente e mais bem estruturadas. O aumento do uso de recursos tecnológicos em sala de aula não é uma possibilidade, é uma questão de tempo que está relacionada com o desenvolvimento de políticas e com os investimentos. As escolhas equivocadas de gestão somente retardam um processo que um dia será concretizado, mesmo que seja por interferência dos interesses de mercado. O pesar é que essa demora faz com que muitas pessoas percam a oportunidade de viver essa experiência e tenham uma formação mais adequada para a atuação em frentes de trabalho mais avançadas tecnologicamente.

5)  O que considera fundamental para alunos, professores e comunidade no processo de educação?

A integração e o respeito mútuo deve ser a base dessa relação. As tecnologias podem auxiliar muito nesse processo, assim como podem ser o fator desencadeador dos conflitos. Para que a experiência seja produtiva é necessário investir no diálogo como forma de minimizar as arestas e potencializar os efeitos positivos. Cada vez mais, os professores e professoras têm assumido o papel de facilitadores nas atividades de ensino, já que as informações estão disponíveis de forma ampla na internet. Essa condução orientada é muito importante para que os estudantes tenham o melhor resultado nos exercícios do aprendizado, o que deve ser acompanhado e apoiado pelos pais e outros responsáveis legais. Esse processo não pode ser visto como forma de restrição e sim como possibilidade de ampliação dos horizontes do educando.

6)  Gostaria de acrescentar algo, algum conselho ou algo que acha importante ser dito?

Gostaria de reafirmar minha crença na educação como meio primordial de investimento social. Não adianta aportar recursos em saúde, segurança, infraestrutura e qualquer outra área, se não houver o investimento concomitante na educação. Não que ela seja a única ou principal área, só que ela aumenta as possibilidades de que as pessoas tenham condições de compreender e se apropriar das informações disponibilizadas, assumindo novas condutas de preservação de si e dos outros. 

Por :Luísa Barbosa