Entrevista: Luciano Manhães de Andrade Filho

Entrevista: Luciano Manhães de Andrade Filho

Luciano Manhães de Andrade Filho possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2001), mestrado em Instrumentação Científica pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (2004) e doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE (2009), com período sanduíche no Centre Européen pour la Recherche Nucéaire (CERN) em Genebra. Atualmente é professor Adjunto IV da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Circuitos Eletrônicos, atuando principalmente nos seguintes temas: Processamento de sinais para calorimetria, Processamento digital em FPGA, Sistemas de Qualidade de energia elétrica.

Ele já participou de outra entrevista com o EI em 2018 que você pode ler aqui.

Em sua graduação o senhor participou de atividades extracurriculares como Iniciação Científica. Que relevância essa experiência teve em sua graduação? Te ajudou a decidir a seguir a carreira acadêmica? O quão importante o senhor considera as atividades extracurriculares para os alunos da graduação, tanto para a vida acadêmica como para a profissional?

Sim, fiz iniciação científica desde o terceiro período até o final da faculdade. Na ocasião, tive a oportunidade de participar de uma colaboração internacional, em um observatório de Raios Cósmicos, na Argentina. Tive contato, pela primeira vez, com pesquisadores de todo o mundo (era um projeto muito grande). Isso foi muito importante e me guiou no modelo de pesquisa que adoto hoje. Com certeza a iniciação científica me influenciou a seguir a carreira acadêmica. Mas trata-se de uma atividade indispensável, no meu ponto de vista, para qualquer aluno de graduação. Tem aprendizado na pesquisa que será de suma importância na carreira e que não pode ser abordada em sala de aula.

Na outra entrevista o senhor compartilhou com a gente como surgiu a oportunidade de fazer o doutorado fora do país. Como foi essa experiência? Existe muita diferença entre a pesquisa acadêmica no Brasil e no exterior?

Isso depende muito da área. No meu caso, que atuo com Instrumentação em Física de Partículas, sair do Brasil foi fundamental. Mas nós temos laboratórios de excelência em diversas áreas aqui no Brasil. Claro, se tiver a oportunidade de passar um tempo fora, eu recomendo, pois trata-se de uma experiência fantástica também do ponto de vista pessoal.

Cada vez mais o mercado tem sido mais exigente com os profissionais. O que o senhor considera fundamental para um engenheiro atualmente?

Sendo bem sucinto, eu considero que são dois os fatores fundamentais: o espírito de grupo e a incessante busca por atualização e capacitação.

Em meio a pandemia e quarentena tem sido necessário nos adaptar. Como tem sido continuar as pesquisas e trabalhos nesse período?

Realmente trata-se de um desafio novo. Vamos tentando, errando e adaptando. Nós seres humanos temos esta capacidade. Por incrível que pareça, as pesquisas têm evoluído bem melhor do que eu imaginava. Os alunos que oriento estão respondendo super bem. Nunca tivemos tantos trabalhos concluídos e enviado para congressos quanto agora. Trata-se de um paradoxo. Precisamos avaliar esta nova forma de relacionamento profissional. Um aprendizado muito importante, na forma de nos relacionarmos, sairá desse desafio que estamos passando.

O senhor tem trabalhado com processamento de dados em FPGA, monitoramento de qualidade de energia elétrica e processamento de imagem para sistemas embarcados. Como o senhor vê o futuro da área de eletrônica no Brasil?

Gostaria de ser mais otimista quanto a isso. A eletrônica é uma área muito técnica. A população em geral, por meio de seus representantes governamentais, vem sinalizando uma perda de interesse na pesquisa. Vivemos hoje no Brasil uma sociedade mais imediatista quanto ao desenvolvimento tecnológico. Pensamos mais em como importar tecnologia nova para gerar lucro imediato ao invés de desenvolvê-la. Não estou dizendo que isto está errado, é uma estratégia de desenvolvimento. Mas, pra mim como professor e pesquisador, um país que busca desenvolvimento concreto deve pensar primeiro no conhecimento científico e o lucro será apenas uma das muitas felizes consequências.

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Kássia Carvalho