Entrevista: Francisco Gomes, fundador do PET Elétrica UFJF

Francisco José Gomes foi professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e tutor do Programa de Educação Tutorial da Engenharia Elétrica no período de 1991 a 2016. Graduado na UFJF em Engenharia Elétrica, em 1974, realizou seu mestrado em Ciências e Técnicas Nucleares na UFMG, em 1980, enquanto engenheiro da Nuclebrás, o Doutorado em Engenharia Elétrica, na área de Automação, na UNICAMP, em 1989 , dentro do Programa de Capacitação da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC, onde atuava como engenheiro de Desenvolvimento, e Pós-doutorado em Engenharia de Produção, na Universidade do Minho, em 2012, enquanto professor da UFJF.

  • Você foi tutor do pet de 1991 a 2016. O que esses 25 anos a frente do grupo trouxeram para sua vida?

Resumo este importante período da minha vida de uma forma simples, porém profunda: durante estes anos, juntamente com os alunos com os quais convivi, com destaque especial para aqueles que integraram o Programa de Educação Tutorial – PET da Engenharia Elétrica, aprendemos a construir um árduo, mas gratificante, aprendizado sobre o significado real da palavra EDUCAR.

  • O quão importante você considera as atividades extracurriculares para os alunos da graduação, tanto para a vida acadêmica como para a profissional?

Se considerarmos como atividades extracurriculares aquelas realizadas externamente às salas de aula, posso afirmar que elas complementam a formação do perfil profissional do futuro engenheiro, permitindo-o desenvolver competências, visões e posturas que serão fundamentais para suas atividades profissionais, ambientando-o às situações reais onde estará atuando e capacitando-o a ser um profissional mais completo. Estas competências, visões e posturas não serão conseguidas facilmente somente no ambiente acadêmico, nas salas de aulas.

  • O que te motivou a se tornar professor?

Creio que foi o desejo de realizar atividades profissionais de uma forma mais completa, desenvolvendo meu trabalho associado à formação dos alunos, haja vista que, após 15 anos de atividade profissional como engenheiro, eu visualizava que muitas necessidades associadas ao perfil profissional não eram devidamente trabalhadas no ambiente acadêmico.

Minha perspectiva era poder desenvolver estas atividades junto aos alunos, complementando sua formação, e que envolviam atributos como o trabalho em equipes multidisciplinares, experiência concreta com o desenvolvimento tecnológico e a inovação, fortalecendo percepção de suas dificuldades e complexidades; cito ainda a importância da gestão adequada de recursos – materiais e humanos -para se alcançar os objetivos estabelecidos em projetos; fortalecimento da capacidade de aprendizagem contínua e de gerenciamento do novo e do inesperado, considerando a demanda constante e situações imprevistas, comuns em projetos, que é a forma usual de trabalho do engenheiro. Durante meu tempo como aluno de graduação não tive qualquer contato com estas questões, associadas ao trabalho do engenheiro, e totalmente ausentes dos currículos, à época.

  • Durante todos esses anos em contato com o meio acadêmico, em especial com o da engenharia elétrica, o que você considera que mais mudou, seja na forma dos métodos de ensino, conteúdos abordados, etc.?

Os conteúdos abordados foram muito impactados pela informática, especialmente no tocante aos procedimentos e processos para sua efetivação e busca de resultados. Simultaneamente, os desenvolvimentos conceituais continuam, de forma diferenciada em áreas distintas da engenharia, obrigando os engenheiros a uma busca constante de aprendizado contínuo e atualizando seus conhecimentos! Mas destaco, principalmente, a necessidade das novas competências agregadas ao perfil profissional, complementando os conhecimentos técnicos.

Infelizmente, não se pode afirmar o mesmo para os métodos de ensino, especialmente na realidade de nossas universidades, pois continuam, fundamentalmente, a utilizar posturas expositivas, com visões objetivistas da relação ensino – aprendizagem, considerando o aluno como tabula rasa e conferindo ao professor lugar de destaque, enfatizando, desta forma, o ensinar como função principal dentro da escola. Esta perspectiva vê o conhecimento como algo a ser transmitido pelo professor e adquirido pelo aluno, conferindo grande importância à memorização, à reprodução, à cópia, em detrimento da criação pessoal. Precisamos dar um passo à frente e começar a utilizar métodos de aprendizagem ativa, com visões diferenciadas da relação ensino-aprendizagem, como já ocorre em universidade destacadas no exterior.

  • O que você considera fundamental para um engenheiro atualmente? Que conselhos daria a um estudante que está prestes a se formar?

É fundamental que o engenheiro que se forma atualmente tenha consciência que a necessidade dos conhecimentos técnicos não se esgota com sua graduação, mas continuará por toda a vida, em um processo de aprendizagem contínua. É fundamental que o aluno, ao se graduar, adicionalmente à aquisição dos conhecimentos técnicos na faculdade, tenha reforçado suas competências profissionais tais como o a capacidade de aprendizagem independente, interdependente e contínuo, a capacidade de solucionar problemas, o desenvolvimento de um pensamento crítico e a criatividade, as habilidades interpessoais, de grupo e de equipe, saber se comunicar de forma tanto oral como escrita, em mais de uma língua, desenvolver capacidade para a avaliação e auto avaliação e integração do conhecimento disciplinar. Destaco ainda uma visão social dos impactos causados pelo trabalho do engenheiro