Entrevista: Danilo Pinto, tutor do PET Elétrica
Danilo Pereira Pinto é professor titular da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e atualmente é tutor no Programa de Ensino Tutorial da Engenharia Elétrica. Graduou-se pela Universidade Santa Úrsula, em 1984, e realizou mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio de janeiro em 1988 e em 1995, respectivamente.
Em Agosto de 2016, assumiu o posto de tutor no grupo PET Elétrica e nesta entrevista, irá contar um pouco sobre como isso marcou a sua vida. Além disso, Danilo possui vasta experiência na área de sistemas de potência, eficiência energética, fontes alternativas de energia e educação para engenharia.
- Você assumiu o posto de tutor do grupo PET Elétrica em agosto de 2016. O que você acha que esse 1 ano e 2 meses à frente do grupo mudou em sua vida? Algum contraste importante que gostaria de citar nesses últimos tempos?
O que mais mudou na minha vida profissional nos últimos anos foi o fato de ter assumido a tutoria do grupo PET Elétrica da UFJF. Após o processo de progressão para professor titular em maio de 2015, eu estava um pouco desmotivado com o trabalho na Universidade. Cheguei a pensar na aposentadoria como uma solução para os problemas que estava enfrentando, falta de motivação e falta de interesse. Com a possibilidade de assumir a tutoria do PET, isso me deu um novo gás, tanto pessoal quanto profissional. Após o estágio pós-doutoral na Universidade do Minho, em Portugal, não via mais possibilidades de atuar como professor se não fosse utilizando uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem. O que o PET me proporciona a todo momento. Hoje me sinto muito motivado com o grupo, com as atividades que estamos desenvolvendo e as perspectivas de novos projetos. Eu acompanho o Programa de Educação Tutorial desde a sua criação na Faculdade de Engenharia, há 26 anos. É um programa fantástico. Temos sempre alunos muito envolvidos com a proposta do programa. Desde 2005, optei focar minhas atividades profissionais na graduação. Trabalhar com a metodologia ativa de ensino-aprendizagem é muito interessante, pois muda todo o foco do processo, onde o aluno tem que ser proativo e o professor atua como orientador/tutor neste processo.
- O quão importante você considera as atividades extracurriculares, que um aluno tem acesso durante a faculdade, no desenvolvimento do estudante e no preparo para sua vida profissional?
A formação profissional tem mudado muito nos últimos anos. Durante a minha formação, na década de 80, não tínhamos acesso a estes projetos/atividades extracurriculares.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Engenharias foi um grande avanço na legislação da formação, tirando o foco do aprendizado do professor para o aluno, quando valoriza as atividades extra classe. Hoje o que é mais importante não é o que se sabe — o conteúdo — e sim o que você é capaz de fazer com o conteúdo apreendido, isto é, suas habilidades e competências técnicas e profissionais.
Estágios, IC e outros programas institucionais como treinamento profissional e monitoria são excelentes oportunidades. Além destes, os PET’s, GET’s e o Baja, por exemplo, e tantos outros projetos extracurriculares disponíveis para o desenvolvimento de habilidades e competências, contribuem para a formação de profissionais mais integrados com o seu contexto social. Além disso, devem reforçar as competências técnicas, com o aprofundamento de conteúdos da área de atuação que o discente pretende trabalhar.
- Atualmente, estamos vivenciando mudanças importantes no nosso sistema de distribuição de energia. Nossa geração, fortemente caracterizada pela centralização da produção nas hidrelétricas, está começando a tomar uma natureza descentralizada, onde o consumidor final começa a produzir energia e paga a diferença entre o consumido e produzido às concessionárias de energia. O que você acha disso? Existe algum problema que você ache importante ressaltar?
Acho que o nosso sistema de energia tem que avançar muito. Temos grandes desafios — problemas — a serem solucionados a curto e médio prazos e vocês engenheiros terão que contribuir significativamente para o desenvolvimento da nossa sociedade. Por exemplo: a questão energética. Quem irá desenvolver tecnologia para suprir a demanda sempre crescente de energia, visto que a população está sempre em crescimento? E com a perspectiva da escassez de petróleo? Temos tecnologia para substituir uma fonte de energia tão importante como o petróleo? Quem irá desenvolver essa tecnologia serão os atuais discentes e futuros engenheiros. Não podemos esperar o petróleo acabar para pensar qual a fonte irá substituí-lo.
Em relação a energia elétrica, acho importante que tenhamos a possibilidade de gerar nossa própria energia, isto é, geração distribuída, onde pequenos produtores possam ser auto sustentáveis. Nossas reservas de geração hídrica estão se esgotando, a transmissão a longas distâncias produzem perdas significativas e o custo do Sistema Elétrico de Potência é elevado e para melhorar isso, são necessários grandes investimentos. Hoje, considero que é fundamental disseminar a cultura do combate ao desperdício de energia como fonte virtual de geração e desenvolver equipamentos que produzam o mesmo produto/serviço gastando menos energia.
- Qual sua opinião acerca do uso de energia nuclear?
Todas as fontes de energia vêm da natureza. Todo uso de energia provoca algum impacto ambiental. Devemos utilizar da melhor forma possível, minimizando os impactos ao meio ambiente. A energia nuclear requer um aparato de segurança muito grande para evitar acidentes. Todas as formas de utilização de energia também podem provocar acidentes: veja quanto já poluímos nossa atmosfera com o uso do carvão e dos combustíveis fósseis.
Portanto, não sou contra nenhuma forma de energia. Sou contrário a utilização de qualquer energia sem nos preocuparmos em preservar os recursos naturais para as gerações futuras.
Daí, minha atuação na disseminação da cultura do combate ao desperdício, formando cidadão comum e profissionais que irão desenvolver e operar sistemas capazes de combater o desperdício.
- O que te fez tornar-se professor?
Eu sempre gostei de estudar. Sempre discutia os conteúdos com meus colegas antes das provas, tirando dúvidas e sempre gostei de estudar em grupo, por exemplo. Quando passei no vestibular, em 1979, fui convidado para substituir um professor do ensino médio em duas aulas. Achei fantástico. Depois, durante a faculdade, eu ministrei aulas particulares. Quando me graduei em engenharia elétrica, em 1984, o Brasil passava por uma crise e não havia empregos para engenheiros. Minha opção foi ingressar no mestrado. Iniciei minha carreira docente em 1986 quando fui convidado a substituir uma professora da Universidade Católica de Petrópolis. Acho que aí meu destino estava traçado. Apaixonei-me pela docência e até hoje sempre foco minhas atividades visando a formação dos graduandos e a apropriação de conhecimento pela comunidade em geral.
- Você está na UFJF desde 1987. O que você mais percebe de diferença entre o curso de engenharia elétrica entre o ano de hoje e o desse tempo? E os alunos, o que mais diferencia cada um em cada uma das épocas, em sua visão?
Está tudo muito diferente. Quando iniciei na docência, os alunos se dedicavam muito aos conteúdos abordados em sala de aula. Não havia incentivos às pesquisas e trabalhos extracurriculares. O foco era no conteúdo.
Hoje, além dos conteúdos técnicos, o mundo do trabalho exige que o engenheiro tenha um conjunto muito amplo de habilidades e competências, além dos conteúdos técnicos. A velocidade da informação ampliou muito os horizontes dos discentes.
Atualmente, os alunos possuem um ferramental muito veloz na busca de informações, o que é bem diferente de quando iniciei na UFJF. O desenvolvimento tecnológico permitiu evoluir métodos e técnicas de armazenamento de dados, ampliou significativamente a velocidade de cálculo, facilitou a comunicação entre sistemas e dentre outros. Portanto, acho que não dá para comparar estas duas épocas.
Temos que evoluir e nos atualizar sempre. Se os graduandos não tiverem isso em mente, ficarão obsoletos antes mesmos de saírem da graduação. Assim, temos que estar sempre na fronteira do conhecimento. Para isto é necessário ter uma boa formação básica e a capacidade de inferir novos conhecimentos.
- O que você diria para um estudante que está terminando a graduação em Engenharia Elétrica e está em dúvida sobre qual carreira seguir (acadêmica ou mercado de trabalho)?
Acho que o exercício profissional da engenharia não deve separar a vida acadêmica e o mercado de trabalho. Tanto a docência (ser professor e/ou pesquisador) quanto atuar como engenheiro em uma empresa pública ou privada são atividades do exercício profissional do engenheiro.
Hoje em uma IES — Faculdade de Engenharia — os docentes devem participar de projetos de ensino, pesquisa e extensão que são projetos que necessitam da competência técnica do profissional engenheiro.
Eu diria a qualquer estudante de qualquer área do conhecimento que ele deve antes de tudo buscar sua felicidade.
Ele deve procurar se conhecer e descobrir suas competências e habilidades para desenvolver sua atividade profissional onde ele tenha um enorme prazer em trabalhar. Onde ele realmente ame o que ele faz.