Entrevista: Daniel Discini, Faculdade de Engenharia Elétrica da UFJF

Daniel Discini Silveira possui graduação em Engenharia Elétrica com ênfase em eletrônica e telecomunicações pelo Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL (1996 a 2001), tendo participado do programa de graduação sanduíche em Engenharia Elétrica na Technische Universität Dresden (1999). Cursou mestrado em Telecomunicações pelo Instituto Nacional de Telecomunicações (2001-2003) e doutorado em Engenharia Elétrica/Telecomunicações – Vienna University of Technology (2003-2007), Áustria. Trabalhou de 2007 a 2009 como engenheiro de desenvolvimento de produtos na Linear Equipamentos Eletrônicos S/A, e no ano de 2010 trabalhou como desenvolvedor de produtos/pesquisador na empresa TSM Telecomunicações. Em 2011 ingressou na UFJF como professor adjunto. Tem experiência na área de Engenharia Elétrica, com ênfase em Sistemas de Telecomunicações, atuando principalmente nos seguintes temas: microondas, filtros, amplificadores de RF, software de controle e automação de medidas e dispositivos em RF, projeto de amplificadores de potência e linearização de amplificadores de potência.

1. Como o fato de ter estudado em outro país, tanto na graduação quanto no doutorado, acrescentou à sua formação como engenheiro e como professor?

Então, na graduação foi interessante, um programa similar ao Ciências sem Fronteiras, foi um primeiro contato. Eu nunca tinha passado um tempo maior no exterior e foi interessante porque mesmo eu morando fora de casa aqui no Brasil (em Santa Rita do Sapucaí), achava que poderia ter alguma similaridade, mas no exterior você está numa situação muito diferente: além de você estar longe da família, você não tem a possibilidade de voltar. Eu tive que aprender e “me virar” em outra língua: no alemão, que eu não tinha o menor conhecimento. A universidade nos deu um curso de 40 horas da língua aqui, que oferecia somente o básico, e tivemos realmente que aprender bastante lá fora. Eu cheguei a fazer disciplinas da engenharia em alemão no primeiro semestre, demorei cerca de 8 meses por causa da dificuldade da outra língua, mas voltei de lá com muitas matérias cursadas, cerca de 30 ou 40 créditos. E esse lado de amadurecimento foi muito grande por conta disso, então.

A gente foi com um grupo de 12 brasileiros lá nesse programa, com estudantes de outras áreas também, e a gente se ajudava bastante, tenho contato com eles até hoje. Na Universidade de lá, as pessoas trabalhavam com tecnologias diferentes, coisas, às vezes, mais avançadas, que só fomos ver no Brasil em 4 ou 5 anos, então te dá também um diferencial quando, por exemplo, você faz entrevista para entrar numa empresa aqui. Na minha entrevista, me perguntaram “Você já viu essa tecnologia aqui?” e era um simulador com o qual eu já tinha trabalhado lá, que não tinha chegado no Brasil ainda, o que foi um grande diferencial para mim na época. Para entrar na empresa que eu fiz estágio, na HP na época, que trabalha com instrumentos de medidas, eu concorri com outros estudantes de outras universidades e um diferencial grande foi ter estudado no exterior, então ajudou, não só na parte social, como na parte acadêmica também. Foi muito interessante aproveitar essa experiência. E quando eu voltei eu sempre procurei falar para as pessoas fazerem o mesmo. Embora alguns que tenham saído daqui não tenham aproveitado tanto a chance e não levaram a sério, os que levaram a sério hoje estão colhendo os frutos. Tem alguns alunos que formaram em Telecom que foram, aproveitaram a oportunidade e hoje estão bem colocados.

2. Como foi a sua escolha de seguir carreira acadêmica após a conclusão da graduação?

Então, isso foi interessante porque, na verdade, eu não queria seguir carreira acadêmica. Eu estava como estagiário numa empresa e por mim eu continuaria lá como engenheiro até hoje. Mas nesse ano, ocorreu o atentado das Torres Gêmeas enquanto eu ainda era estagiário e a empresa não quis contratar ninguém na época (foi em setembro e o meu estágio era até o final do ano). Foi estranho porque foi um processo seletivo pesado, eles escolhiam um ou dois estagiários já para contratar mesmo: era uma coisa direcionada para a empresa, como se fosse um trainee. Mas no final eles me falaram que não iam me contratar, então eu tive que dar um jeito.

Na época, estava começando o mestrado no INATEL, que foi onde eu fiz minha graduação, então eu pensei em tentar o mestrado, e tive um professor que me incentivou também, que foi o meu orientador na época. Ele disse “Faz mestrado, é muito bacana, se você quiser dar aula, fazer pesquisa, você vai ter um sustento. Pode ser que você trabalhe em uma empresa e dê aula à noite, então você tem pelo menos alguma coisa para ‘segurar’”. Eu achei a ideia interessante, fiz provas para conseguir uma bolsa e comecei a fazer mestrado.

E no meio do mestrado surgiu a oportunidade de eu me aplicar para uma bolsa de doutorado no exterior, então eu fiz a minha candidatura. O processo durou mais ou menos um ano, era uma burocracia grande, mas deu certo: meu projeto foi aprovado. Só que eu tinha que terminar o mestrado e aí foi meio na correria, foi em um ano e meio por causa disso, mas deu certo. Então uma coisa puxou a outra: o fato de eu ter feito essa parte da graduação no exterior abriu a oportunidade para eu fazer o doutorado também no exterior, porque eles pediram a proficiência em uma língua e eu já sabia alemão. Por isso que eu falo que a experiência fora é importante. Ela ajudou nos dois lados: se eu quisesse seguir uma carreira profissional teria ajudado, como ajudou, e quando eu quis ir para a carreira acadêmica também ajudou.

O curso de doutorado era Engenharia Elétrica mais voltada para Telecomunicações mais por uma escolha minha; tinha outros brasileiros na mesma Universidade estudando uma Engenharia Elétrica mais voltada para Sistemas de Potência e Energia. Eles deixaram a escolha das matérias livre para nós lá e eu escolhi as mais voltadas para Telecomunicações.

3. Houve uma mudança de foco muito grande ao entrar na área de desenvolvimento de projetos para a indústria? A sua pesquisa de mestrado e doutorado estava relacionada aos projetos?

Sim. Houve porque a indústria brasileira não é tão voltada para pesquisa, ela é mais voltada para produção. Então, quando você chega com o doutorado (talvez não tanto o mestrado), você tem a expectativa de trabalhar com uma pesquisa aplicada que dá resultado a longo prazo e na indústria eles querem resultados rápidos a curto prazo. Pode parecer a mesma coisa, mas não é: a curto prazo significa que em 2, 3 meses você apresente os resultados e rápido no sentido do resultado ser funcional. E você unir as duas coisas, sendo que é uma inovação, não é tão simples.

Às vezes você pode apresentar um resultado a curto prazo, mas ele não é funcional, então, quando você chega numa parte de um produto que você tem que trabalhar, ele vai chegar em um protótipo, mas o protótipo ainda não está completamente funcional, ele ainda não encara uma linha de produção. Por exemplo, você vai fazer um e ele vai funcionar muito bem, mas o próximo vai ter um defeito que você não consegue tirar, então você não pode mandar para o mercado porque ele não está funcional. Então para refinar o produto a curto prazo é bem complicado. Pode ser que você esteja pegando algum produto que não existe no Brasil, mas já existe lá fora e esteja fazendo aquilo funcionar a um custo mais baixo, porque numa empresa você também tem que olhar a questão do custo.

Então, quando eu voltei para o Brasil, eu trabalhei em duas empresas e as duas estavam indo pelo mesmo caminho. Trabalhei inicialmente em uma empresa por quase dois anos e foi relacionado com a minha pesquisa: eles tinham um produto que estava funcionando de uma certa maneira, eu peguei os resultados da minha pesquisa e apliquei naquilo e o produto deu um salto de qualidade. Podia não ser o melhor do mercado, mas estava entre os melhores, enquanto anteriormente ele era um produto completamente normal. Inicialmente eles estavam um pouco céticos, não queriam aplicar isso, era um produto com preço até alto. Depois, aplicaram essa solução, deu muito certo, eles ficaram felizes, me mudaram de área e disseram ‘Agora você vai fazer esse mesmo desenvolvimento nessa outra área’, que era uma que eu não tinha feito doutorado e era muito mais voltada para a produção.

Então, você colocar o profissional para aplicar o conhecimento que ele tinha em uma área e conseguir resultados excepcionais é uma coisa. Você tirar o profissional que estava ali e colocar em outra área completamente diferente e querer que ele dê resultados rápidos numa área que ele não estudou, precisaria de um tempo maior para desenvolver aquilo lá e a empresa brasileira simplesmente não tem tanta paciência para isso. Eles acham que você vai ficar ali trabalhando 10, 12 horas por dia, fins de semana e dando resultado. E quando você volta do doutorado você tem uma expectativa salarial um pouco maior, porque, afinal de contas, você estudou 6 anos a mais, no mínimo, 4 de doutorado e 2 de mestrado. E com a expectativa salarial maior o ‘cara’ acha que você tem que resolver todos os problemas possíveis. Então é isso que acontece: eu acho que o espaço para um doutor hoje está numa empresa com uma envergadura muito grande, de porte maior, talvez multinacionais (IBM, Google) que dêem espaço para o pesquisador desenvolver o trabalho dele. Eu comecei a ter dificuldade por causa disso: tinha que trabalhar muito para conseguir resultados bacanas em um curto espaço de tempo, e acabava ficando muito estressado, não tinha tempo para pesquisar, fora que o pessoal não quer investir tantos recursos em equipamentos, material, então fica difícil você ter que unir as duas coisas. Foi essa a dificuldade que eu tive em empresa e foi uma das motivações que me trouxe para a universidade. Na universidade você tem um tempo maior para fazer as coisas e tem a parte de poder ajudar as pessoas também que é o que a gente faz dando aula, passar um pouco do conhecimento que a gente teve lá fora, o que é uma parte altruísta e bacana também.

4. Você recebeu algum treinamento específico dentro da empresa?

Eu recebi um treinamento, mas não foi um treinamento específico: eu via as necessidades que eles tinham e eu tinha que aprender lá dentro, e aí obviamente você tem alguém do lado falando como funcionam as coisas, mas não foi alguém que me sentou lá e disse “vou te dar um curso disso”, não aconteceu. Eu tive que correr atrás das necessidades deles e eu ir estudando. É mais uma questão proativa da pessoa que tem que correr atrás mesmo.

5. Quais projetos você está desenvolvendo aqui no momento que você gostaria de destacar?

Eu já estive no desenvolvimento em um projeto de drone que eu trabalhei mais na parte de eletrônica propriamente dita, foi um desenvolvimento bacana. A outra parte que eu trabalho aqui são amplificadores de potência. Infelizmente alguns equipamentos que a gente comprou aqui não estão funcionando como a gente esperava, um equipamento para fazer placa de circuito a laser, por exemplo, era uma coisa que poderia beneficiar não só o curso de Eletrônica, mas o de Telecomunicações e a minha pesquisa também. Eu estou vendo se eu consigo fazer essas placas fora, para ver se eu adianto a minha pesquisa, que é a continuação da minha pesquisa de doutorado na parte de modelamento de amplificadores de potência de radiofrequência, modelo matemático, e a parte de pré-distorção também. O meu foco de pesquisa aqui é esse, essa parte de modelos matemáticos, essa parte de processamento de sinais e a parte de microcontroladores, e tem um pessoal trabalhando na parte de eletrônica, em FPGA para fazer esse tipo de modelamento, em DSP, mais nesse ramo de pesquisa.

6. Como está a área de trabalho de Telecomunicações atualmente e qual a sua expectativa para o futuro?

Telecomunicações na parte de trabalho, eu tenho alguns colegas que estão trabalhando e parece que tem muita convergência na área de implantação, então trabalha-se muito com implantação de redes novas, redes ópticas, redes de celulares, redes 4G, está vindo o 5G também, então sempre tem uma demanda muito forte por novas redes. E aí com novas redes vêm novas antenas, novos transmissores, vem trocando tudo, então isso tem uma demanda forte também.

Tem a parte de TI também que um profissional de Telecomunicações consegue atuar. O mercado de TI cresce a todo ano, então, a gente está vendo desenvolvimentos e revoluções até, como o Uber, por exemplo, que depende muito dessa parte de TI, como o mercado imobiliário, que também depende muito de TI. Também têm transformações, por exemplo, em sites de aluguel de casa, aluguel de carona, toda essa parte de comunicação de alguma coisa com outra, vai envolver Telecomunicações, redes, que é uma área muito ampla. Então, o profissional tem que saber como funcionam as comunicações sem fio e com fio também, para estabelecer as redes na parte física. E também a parte lógica, que o profissional de telecomunicações também é treinado nisso, que é a parte de gerenciamento de risco, protocolos, e camadas, numa rede física na parte de internet, então são várias áreas que o profissional pode atuar.

Então quando a pessoa forma ela sabe um pouco de cada coisa, se for fazer um mestrado ela vai saber muito uma coisa só, mas a intenção é justamente essa: você saber um pouco de várias coisas para que ser você cair numa empresa, empreender ou fazer mestrado você consiga desenvolver aquilo e formatar aquilo para a empresa que você quer. Eu acho que tem um mercado muito amplo, as empresas de tecnologia, tanto a Google, como Microsoft, como todas as outras, dependem de Tecnologia da Informação, que é muito íntimo com Telecomunicações, não tem como você fazer uma sem a outra. Não tem como você comunicar com vários dispositivos, por exemplo, a Internet of Things, sem ter uma base de Telecomunicações. Então é um profissional, no meu ponto de vista, de Telecomunicações, claro que tem a base em Engenharia Elétrica, uma base, mas ele está mais atual nos conhecimentos que são necessários para o mercado hoje em dia. O mercado está indo realmente nessa direção de comunicação entre dispositivos, com uma maior porcentagem de comunicação entre as coisas, que seja, por exemplo, uma rede de energia elétrica, uma rede de telecomunicações, dentro das casas das pessoas, entre automóveis, sempre tem essa parte de comunicações. E é o conhecimento que o estudante adquiri ao longo do curso e chega formado com essa base pronto para atuar.

O mercado de trabalho pode ser que pende para um lado, pende para o outro, às vezes está um pouco mais ativo, mas sempre tem alguma coisa disponível. Enfim, no começo é assim mesmo, vocês [estudantes] vão penar um pouco, talvez sair de Juiz de Fora, mas sempre, tendo disposição de trabalhar, disposição de viajar, arruma colocação no mercado. Eu vejo que todo o pessoal que está formando está conseguindo se colocar e a gente fica satisfeito de ver, é uma satisfação pessoal para todos os professores e para todo mundo que estava envolvido no curso ver o pessoal sair daqui com essas possibilidades de estar empregado em diversas áreas. E é isso que é o curso de Telecomunicações: ele não é específico numa parte só, que é o que demanda hoje em dia o mercado, você não pode estar focado só naquilo ali, você tem que estar aberto para várias áreas.

7. O que você diria para um estudante que está terminando a graduação em Engenharia Elétrica (em Telecomunicações ou não) e está em dúvida sobre qual carreira seguir (acadêmica ou mercado de trabalho)?

Então, eu diria que depende do interesse da pessoa, por exemplo, se ela teve interesse em se desenvolver e trabalhar próxima de pesquisas acadêmicas, gosta de trabalhar com aquilo, gosta de correr atrás de informação que às vezes não está disponível, às vezes o professor não disponibilizou: trabalho em pesquisa é isso, nem sempre alguém vai te ajudar. No meu doutorado, por exemplo, meu orientador falou “Olha, não tem ninguém que faz esse trabalho na sua área, eu não vou conseguir te orientar, mas tem um monte de livro aí, se você quiser, estuda”, então no meu doutorado eu praticamente não tive orientação. E é uma coisa, assim, da área, não quer dizer que em toda orientação o orientador vai te dizer por onde ir, não, você vai ter que correr atrás de muita coisa sozinho, então você tem que gostar muito daquilo, dessa parte de pesquisa, dedicar muito tempo para talvez dar um passo pequenininho. É isso, trabalho de pesquisa depende muito de dedicação e talvez se você trabalhar numa área onde não existe nada, os avanços são lentos e metódicos e você tem que seguir uma metodologia, que é procurar uma bibliografia, ver o que já existe, estudar encima daquilo que dá para fazer, desenvolver aquilo teoricamente, fazer o modelo prático, testar se aquilo funciona. Funcionou, tem que estar disposto a fazer relatório, artigos, enfim, se envolver com isso. E na parte acadêmica não tem como: você vai precisar de outra língua invariavelmente, tem que aprender no mínimo o inglês, quanto mais você aprender, melhor. Você vai poder trocar informações com profissionais de outros países, que é fundamental, você tem que estar aberto para comunicar com outras pessoas, para ter intercâmbio de tecnologias, e até com pessoas de outras universidades daqui mesmo. E estar disposto a ficar nesse meio, que é um meio que realmente tem uma competição entre universidades, acontece isso.

Já o meio profissional, talvez você não tenha tanto trabalho de pesquisa porque o que você vai fazer é algo que já existe, por exemplo, talvez uma linha de produtos de uma empresa, uma série de problemas dos produtos da empresa que você tem que ajudar o seu cliente a resolver, mas que não deixa de ter um conhecimento técnico. A gente pode dividir o mercado de trabalho como engenheiro de pré-vendas e pós-vendas. O de pré-vendas é aquele cara que sabe vender, ele enxerga ali os defeitos e consegue trabalhar com o cliente para resolver os defeitos utilizando vários produtos da empresa e o de pós-vendas está ali para resolver coisas que estão relacionadas com instalações que foram feitas com os produtos da empresa, então ele está lá, vamos dizer, para resolver os problemas mesmo. Você não deixa de ter que estudar os produtos da empresa de qualquer forma: no mínimo o manual você vai ter que ler bem, por isso que eles cobram tanto o inglês. Às vezes você vai ter que se relacionar com fornecedores internacionais ou tem a área de cursos também voltados para a empresa que talvez precise do inglês. E aí é uma dedicação maior para uma empresa, ao invés de uma dedicação maior para a academia, então você vai estar mais formatado nos interesses da empresa. E você tem que ter ciência disso, que você vai desempenhar um trabalho mais voltado para as necessidades do mercado.

Na pesquisa também você tem uma relação com o mercado, mas é uma relação um pouco mais descompromissada: você vai trabalhar numa pesquisa que pode ser que dê um resultado ou não, mas não é uma relação tão grande de sobrevivência como é em uma empresa. Se ela faz um produto que o mercado não aceita, ela morre, mas se você faz alguma coisa na pesquisa que o mercado não aceita, você faz outra pesquisa.

Então os dois lados têm uma pressão, mas eu acredito que a pressão maior está no mercado, porque o mercado flutua, como está flutuando agora: deu uma queda na economia e o mercado flutuou, então tenho alguns colegas que ficaram desempregados, estão tendo um tempo maior para se recolocar, mas há uns 4, 5 anos atrás o mercado estava em alta, eles estava ganhando muito bem. O mercado flutua, você tem casos de profissionais que estavam trocando de empresa, por exemplo, de dois em dois anos por causa de questão salarial, tiveram um ganho em um curto espaço de tempo muito grande, mas aí quando teve uma crise provavelmente a empresa demitiu ou fez uma readequação. Então você tem que buscar uma colocação legal na empresa, acredito que seja um ambiente até mais agressivo, você tem que buscar seu espaço e tem que estar ciente de que tem outras pessoas que estão querendo o seu espaço também, então você pode ter uma competição dentro da empresa. Não deixa de ter na academia também, mas na academia não tem como alguém ocupar o seu espaço de pesquisa ali e você não saber; ele vai concorrer, vai publicar um artigo ou alguma coisa e você vai pensar “ele está competindo comigo”, e na empresa às vezes não, às vezes alguém vende uma informação para tomar o seu lugar, acontece. Mas, obviamente, não é só coisa negativa, tem muitas coisas positivas: você ganha às vezes um treinamento, você tem metas, tem gente que se dá muito bem com a área de vendas, ganha muito dinheiro nela, o setor financeiro é muito grande. Tem pessoas que se dão bem na área técnica e tem um retorno financeiro bacana, tem um amigo meu que está no exterior por conta disso, ele se dá muito bem na área técnica, mas são áreas realmente um pouco distintas embora tenho uma correlação entre elas. As duas vão demandar um esforço, a pessoa tem que gostar mesmo, ter paixão pelo que está fazendo, que aí ela não vai ligar de dedicar um tempo maior ao trabalho. Eu acho que o que manda mesmo é a pessoa gostar do que está fazendo. Procure ser um apaixonado pelo que você faz que com certeza vai dar certo, você escolhendo um lado ou outro.

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