Como se tornar um pequeno produtor de energia

Como se tornar um pequeno produtor de energia

Uma pesquisa da consultoria Accenture aponta que oito em cada dez brasileiros têm interesse em produzir a própria eletricidade de forma autossuficiente. Isso significa que 80% da população gostaria de se ver livre do modelo tradicional de produção e distribuição de energia. Mas como se tornar independente? A geração distribuída é uma boa alternativa.

O sistema tradicional é composto por grandes unidades produtoras, como as hidrelétricas e termelétricas. São elas que geram a energia que, em seguida, percorre milhares de quilômetros em redes de transmissão até chegar aos centros de consumo, de onde é distribuída para os habitantes.

Mas, com o avanço das energias renováveis, como solar e eólica, os consumidores têm ganhado independência. “Uma pessoa pode produzir energia em sua residência, enviar a carga para a rede local e ainda ser recompensada por isso”, explica o professor José Simões Moreira, coordenador do laboratório de sistemas energéticos alternativos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Benefícios
A novidade permite o redesenho do sistema tradicional para um modelo de geração distribuída. Com isso, diminui-se a necessidade de o governo investir na construção de usinas e de cabos de distribuição, uma vez que a energia é produzida mais próximo do consumidor. E traz até vantagens ecológicas, pois, com a proximidade, grandes obras como linhas de transmissão que cruzam a Amazônia poderiam ser reduzidas ou, até mesmo, evitadas.

“O Brasil perde em torno de 17% da energia produzida por ano. A maior parte disso é proveniente de perdas na transmissão, e quem paga por isso é o consumidor”, diz Simões.

Para Agostinho Pascalicchio, professor de engenharia elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a principal vantagem dos sistemas de geração distribuída é ter acesso a uma fonte de maior qualidade, pois o pequeno produtor precisa seguir uma série de especificações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

“No Brasil, é comum encontrarmos lugares onde a energia fornecida não tem a tensão adequada. Isso acontece, por exemplo, quando vemos uma lâmpada em casa que fica mais fraca do que deveria. Isso é mortal para algumas máquinas e impede indústrias de se instalarem em vários locais do país”, afirma.

Como produzir sua própria energia
Residências, condomínios e indústrias podem aplicar a geração distribuída de energia em suas redes. Veja o caso da Ambient, empresa responsável pelo tratamento do esgoto doméstico de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, há mais de 20 anos. Em 2009, a companhia instalou dois moto-geradores que consomem o biogás gerado a partir do tratamento do esgoto como combustível.

Hoje, a empresa é capaz de gerar 1,5 megawatt de energia, cerca de metade do necessário para a operação da estação. O calor dos escapamentos ainda é recuperado para aquecer os digestores de lodo, o que melhora a eficiência da degradação da matéria orgânica.

É preciso seguir alguns passos para produzir sua própria energia e se conectar à rede de distribuição. Como o processo é regulamentado pela Aneel, é necessário consultar a concessionária da região, responsável por controlar os requisitos técnicos e aprovar a solicitação.

Em São Paulo, por exemplo, deve-se entrar em contato com a Eletropaulo. “Outra maneira simples consiste em procurar empresas que vendem os equipamentos produtores de energia, pois elas fazem essa consulta e agilizam o processo”, aconselha Simões.

E o que sobra?
A Aneel também criou o Sistema de Compensação de Energia Elétrica, que autoriza a transformação do excedente em créditos, que podem ser trocados com a distribuidora local e reduzir o valor da fatura de eletricidade. Para isso, o consumidor precisa ter um sistema de monitoramento da sua rede.

Isso pode ser feito com ajuda de medidores inteligentes que, ao contrário dos relógios analógicos, avaliam a rede de forma mais rápida e precisa. “O equipamento registra quanto o consumidor manda de energia e quanto usa do sistema tradicional. Se ele receber mais do que enviou, paga a diferença para a distribuidora. Caso contrário, ganha créditos na próxima fatura”, explica Simões.

Em março deste ano, novas regras foram adicionadas e o prazo de validade de uso dos créditos passou de 36 para 60 meses. Além disso, é possível abater uma fatura de outro local que esteja na área de atendimento da distribuidora, como o de uma filial. Segundo o professor, apesar de as mudanças ajudarem na aplicação do novo modelo de geração de energia, ele ainda precisa avançar para incentivar ainda mais a adesão das pessoas.

“Uma família consome, em média, 400 quilowatts-hora por mês. Para atender a essa necessidade com energia solar, por exemplo, seria preciso investir entre 20 000 reais e 25 000 reais. Mas digamos que essa família tenha um terreno grande. Em vez de ela investir mais para produzir energia além do que precisa, vai apenas cobrir seus gastos e garantir o fim da conta de luz. Se o sistema pagasse pela energia adicional, em vez de apenas fornecer créditos, haveria um incentivo maior para a instalação dos equipamentos”, afirma.

Segundo Roberto Falco, gerente sênior da Accenture, o retorno do investimento em placas fotovoltaicas demora cerca de dez anos. “Mas essas tecnologias estão cada vez mais baratas. Os preços ainda não se estabilizaram, e o histórico dos valores indica uma curva contínua de redução. Portanto, o tempo de retorno de investimento deve diminuir nos próximos anos.”

Fonte: Exame

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