Neil deGrasse Tyson e sua ciência descomplicada

Neil deGrasse Tyson nasceu no dia 05 de outubro de 1958 na cidade de Nova York, Estados Unidos. Quando tinha 9 anos, após visitar o Planetário de Hayden, desenvolveu interesse pela astronomia. Quando era adolescente já se destacava na comunidade astronômica, dando palestras sobre o tema quando tinha somente 15 anos. Em 1976 se formou na Bronx High School of Science, escola especializada em ciências e matemática. Carl Sagan, renomado astrônomo da Universidade de Cornell, convidou-o para programas de graduação, mas Tyson decidiu cursar física na Universidade de Harvard. Eles viraram amigos e Sagan era uma grande inspiração para Tyson. Neil então se formou no bacharelado em 1980, no mestrado em astronomia pela Universidade do Texas em 1983 e mestrado e doutorado em astrofísica pela Columbia University em 1989 e 1991, respectivamente. 

Casou-se com Alice Young, doutora em física e matemática, em 1988, e hoje o casal possui dois filhos, Miranda e Travis.

Em 1994, Tyson passou a trabalhar no Planetário Hayden, o mesmo que o inspirou quando criança, lidando com pesquisas sobre estrutura e evolução das galáxias e em 1996 se tornou diretor do planetário. Em 1995, Tyson iniciou uma coluna em uma revista onde tirava dúvidas sobre o universo. 

Nova Science Now - Neil deGrasse Tyson - TV - Report - The New York Times
Tyson no planetário Hayden (Fonte: Suzanne DeChillo/The New York Times)

Tayson escreveu vários livros e artigos científicos sobre astronomia, apresentou programas de rádio, teve participação em programas de televisão e em diversas palestras. Em 2001, foi nomeado por George W. Bush para ser conselheiro da comissão sobre o futuro da indústria aeroespacial e três anos depois passou a integrar também a comissão organizada para examinar a política dos Estados Unidos sobre a exploração espacial. Desde 2009 ele apresenta o podcast “Star Talk Radio”, onde fala sobre espaço, ciência e cultura popular com participação de pessoas conhecidas e em 2014 foi editor executivo e apresentador da série “Cosmos: A Space Time Odyssey”, dando continuidade ao trabalho de Carl Sagan. Tyson é presente nas redes sociais, mobilizando as pessoas a aprenderem mais sobre as ciências. Em 2013, passou a participar da revisão técnica de filmes com temática espacial como “Gravidade”, “Interestelar” e “Perdido em Marte”, após encaminhar um e-mail para que corrigissem uma das cenas do filme “Titanic” onde o céu noturno que aparecia não correspondia com a realidade. 

Neil DeGrasse Tyson Responds To Misconduct Allegations As Cosmos Team  Investigates - CINEMABLEND
Tyson em seu programa “Cosmos” (Fonte: Cinema Blend)

Os estudos de Tyson contribuíram para a exclusão de uma das possíveis causas do desvio da órbita de Urano do esperado, quando, através de análises energéticas, concluiu que não era possível ter havido colisão de um objeto com Urano, já que a massa teria de ser da ordem de (10^–10)Mo e o impacto teria energia dissipada suficiente (10^4 a energia do Grande Ponto Negro de Netuno-GDS) para gerar mudanças significativas na atmosfera de Urano, sendo visível da Terra. O argumento do impacto estava teorizado como tendo ocorrido há 100 anos. Tyson também foi quem deu um dos primeiros passos para a classificação de Plutão como um planeta anão, excluindo-o do sistema solar. Ele também previu a existência de várias galáxias anãs azuis antes não observadas por meio de simulação computacional. Neil publicou outros vários trabalhos envolvendo estruturas, evolução, astronomia galáctica e cosmologia.

Crédito: Hubble Space Telescope, NASA; A. Hirschauer & J. Salzer, Indiana University; J. Cannon, Macalester College; K. McQuinn, University of Texas
Galáxias Azuis (Fonte: Hubble Space Telescope, NASA; A. Hirschauer & J. Salzer, Indiana University; J. Cannon, Macalester College; K. McQuinn, University of Texas)

Tyson também é considerado um dos maiores divulgadores científicos vivos. Seus livros trazem conceitos complexos sobre o universo se uma forma simples e compreensível. Utilizando senso de humor, oratória e sua habilidade de comunicação, aguça a curiosidade daqueles que gostam de entender mais sobre o cosmos. Recebeu mais de 30 prêmios e homenagens e foi eleito pela revista Time, em 2007, como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. 

Em 2014, se envolveu em uma polêmica. Uma artista, ex-namorada de Tyson, denunciou o cientista alegando que havia sofrido abuso sexual na época da faculdade, nos anos 80. Em 2018 outras mulheres relataram que também sofreram assédio sexual por parte de Neil. Tyson se defendeu das alegações, chamando tudo de “um grande mal entendido” e avisou que cooperaria com as investigações.

Em outubro de 2020 publicou uma carta aberta ao Brasil, que viralizou na internet. Nesta carta ele exaltava a ciência brasileira e questionava o por que de ela não receber o devido apoio, reconhecimento e divulgação, reforçando que as escolhas que fazemos acerca de líderes que são ou não esclarecidos influenciam nisso. 

Caro Brasil,

Das minhas muitas viagens à América do Sul, nunca tive a oportunidade de visitar você. A maioria delas teve como destino a cordilheira dos Andes, com o objetivo de observar o magnífico céu do hemisfério sul por meio de telescópios de alta tecnologia de um consórcio internacional. Mas, mesmo assim, tenho pensado em você com bastante frequência.

Como nativo dos Estados Unidos da América, sei em que costumamos pensar quando se trata de você. Não seguindo uma ordem específica, você possui a maior e mais importante floresta tropical do mundo. Você abriga o maior rio do mundo, que, a cada minuto que passa, escoa para o oceano Atlântico um volume de água que daria para encher um estádio de futebol. E, sim, nós sabíamos da existência de seu rio e de sua floresta tropical muito antes de a Amazon.com pegar o nome emprestado.

Quer mais? Não há quem não goste de castanha-do-brasil [a castanha-do-pará]. Na verdade, nos EUA, nós precisamos pagar pelo pacote “premium” para que elas venham incluídas em nossos mix de castanhas. E mesmo aqueles de nós que quase não acompanham futebol sabem da existência de seus times famosos, ficando na maior expectativa de ver você na final da Copa do Mundo a cada quatro anos. Também sabemos das suas praias deslumbrantes pelas músicas que as cantam — a “Garota de Ipanema” sendo uma delas. Sabemos de suas festas populares, principalmente o Carnaval, e tentamos imitar a intensidade e a alegria dessas celebrações — com dança e música — aqui no nosso hemisfério. Sabemos do seu café. E eu, particularmente, amo a sua bandeira. Há um pedaço do céu noturno estampado nela; mais de duas dezenas de estrelas retraçam constelações autênticas, incluindo o Cruzeiro do Sul.

Então, se você perguntasse a qualquer um de nós nos EUA o que vem à nossa cabeça quando seu nome é mencionado, normalmente selecionaríamos algo a partir dessa lista.

Você sabe do que nós não nos damos conta? Metade das vezes que embarcamos em voos domésticos, da American Airlines ou de outras companhias aéreas, viajamos num avião da Embraer. Tudo bem, o folheto com instruções de segurança traz impresso nele o nome Embraer. Nós podemos até achar Embraer escrito em letras miúdas em algum lugar da fuselagem. Mas quase nenhum de nós sabe que a aeronave é projetada e fabricada no Brasil. Você poderia alardear “Tecnologia Brasileira,” mas não o faz. Por que não? A Alemanha não hesita em se gabar da dela. Nada mais justo, claro. Todo mundo conhece a qualidade dos produtos fabricados na Alemanha, que, por sua vez, permeiam sua economia aeroespacial, a terceira maior do mundo.

Mas, espere. Um dos grandes pioneiros nos primórdios da aviação era brasileiro. Engenheiro brilhante e inventivo, altamente condecorado, Alberto Santos-Dumont liderou a transição mundial do transporte aéreo mais leve que o ar para o mais pesado que o ar. O valor de uma semente cultural como essa, plantada no nascimento de uma indústria, é incalculável. Um século depois, você se tornou líder em tecnologias de biocombustíveis — um passo fundamental em direção a uma economia verde onde nossa harmonia com a natureza vai determinar se iremos prosperar, sobreviver ou nos extinguir. Você também possui uma ambiciosa agência espacial, além de ser a sexta maior indústria aeroespacial do mundo. Na América Latina, você também é líder em Tecnologia da Informação. E num país famoso por sua agricultura, quase um terço de sua economia se apoia num setor produtivo impregnado de tecnologia.

Então talvez seja a hora de o mundo saber mais a respeito disso. Talvez seja a hora de os brasileiros saberem mais sobre isso. Talvez esteja mais do que na hora de você exibir produtos que declarem: “Fabricado no Brasil.”

Seja o que mais for, ou não, verdade no mundo, as economias de crescimento do futuro—mesmo as que possam ser puramente agrícolas — vão girar em torno dos investimentos feitos hoje em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Numa democracia, esses investimentos fluem de um eleitorado letrado cientificamente, que elege líderes esclarecidos e que entendem o valor da educação, das pesquisas e das descobertas. Sem essas perspectivas, ainda estaríamos vivendo em cavernas, com alguns de nós resmungando: “Você não pode explorar o mundo exterior. Primeiro precisa resolver os problemas da nossa caverna.”

Para que ninguém se esqueça, o primeiro (e único) astronauta sul-americano foi um engenheiro aeronáutico brasileiro [Marcos Pontes]. E quando se deu o lançamento de sua missão? Em 2006, ano do centenário do primeiro avião bem-sucedido de Santos-Dumont. E o que ele levou para o espaço? Uma bandeira do Brasil e uma camisa da seleção brasileira de futebol.

Os países que mais passam por dificuldades no mundo tendem a ser aqueles com baixos níveis de instrução e com ausência de STEM em sua cultura. Você tem os recursos e o legado para liderar toda a América Latina, se não o mundo, no que um país do futuro deveria ser — no que um país do futuro deveria aspirar ser.

Se você abraçar e apoiar suas indústrias STEM — e o setor de tecnologia inteiro — então os sonhos dos alunos em toda a cadeia educacional não terão limites, conforme eles forem introduzidos num mundo em que foguetes são o que alimentam as ambições das pessoas que saem pela porta da caverna.

Atenciosamente,
Neil deGrasse Tyson
Estados Unidos da América

Tradução: Galileu 

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Por Kássia Carvalho

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