Inteligência artificial caminha a passos lentos

Quando o computador Watson, da IBM, superou os campeões humanos na competição de perguntas e respostas Jeopardy!, essa conquista indicava o horizonte infinito da inteligência artificial. Logo depois, a IBM resolveu transformar o famoso projeto científico do Watson em um negócio lucrativo, a começar pelo sistema de saúde. Porém, poucos anos depois, a vitória de Watson se mostrou limitada.

Atualmente, os executivos da IBM admitem abertamente que a medicina é muito mais complicada do que tinham imaginado. Os custos e a frustração não paravam de crescer nos primeiros projetos do Watson. Por isso, muitos deles foram limitados, mudaram de foco ou foram engavetados.

As dificuldades iniciais da IBM com o Watson indicam que vender novas tecnologias, embora seja promissor, geralmente é algo que acontece devagar, não de forma repentina.

Apesar dos desafios da IBM, a vitória de Watson no programa de TV há cinco anos ajudou a aumentar o interesse do público na inteligência artificial e no setor de tecnologia. Investidores de capital de risco alocaram verdadeiras fortunas em startups do segmento. Além disso, grandes empresas como o Google, o Facebook, a Microsoft e a Apple têm adquirido empresas de inteligência artificial. O investimento total chegou a US$ 8,5 bilhões em 2015, um alta de mais de 350% em relação a 2010, de acordo com a empresa de análise de dados Quid.

Engenheiros de software com habilidades em inteligência artificial são tratados como estrelas do esporte, levando a disputas acirradas por seus serviços. “As pessoas estão muito empolgadas. As expectativas estão indo muito além da realidade”, afirmou Jerry Kaplan, cientista da computação, empreendedor e jornalista, além de um dos fundadores de uma antiga startup de inteligência artificial nos anos 1980.

Potencial. A inteligência artificial sempre fez parte da ficção científica – como máquinas que pensam por conta própria e ajudam a humanidade, ou como criações ingratas que tentam nos apagar da face da Terra. A realidade, porém, é um pouco menos dramática. A voz robótica dos smartphones que tenta responder perguntas? Isso é um tipo de inteligência artificial, assim como a busca do Google. A tecnologia também está sendo aplicada a complexos problemas empresariais.

“Acredito que as futuras gerações irão observar a revolução da inteligência artificial e comparar seu impacto com o do motor a vapor ou o da eletricidade. Porém, é óbvio que vai levar duas décadas para que essa tecnologia esteja à nossa disposição”, afirmou Erik Brynjolfsson, diretor da iniciativa da economia digital da Faculdade de Administração Sloan, do MIT.

Avanços. Há razões para o entusiasmo. Os computadores continuam a ficar mais baratos, ao mesmo tempo em que se tornam mais potentes, o que facilitará a análise de grandes conjuntos de dados em poucos instantes. Além disso, sensores, smartphones e dispositivos já podem ser encontrados em toda a parte, transferindo cada vez mais informações para computadores capazes de aprender cada vez mais sobre nós.

“Foram realizados progressos surpreendentes na percepção de problemas, na visão, na audição e no uso da linguagem”, afirmou Peter Lee, vice-presidente corporativo da Microsoft Research. Na Enlitic, uma startup com sede em San Francisco, Jeremy Howard, fundador e presidente executivo, acredita que a inteligência artificial pode transformar a saúde, ajudando a poupar vidas e dinheiro – ambição similar à da IBM. “É um projeto para os próximos 25 anos”, afirmou.

Evolução. Nenhuma empresa deu passos tão largos na comercialização de inteligência artificial quanto a IBM. O Watson foi transformado em produto em 2014 e bilhões de dólares foram investidos para acelerar o desenvolvimento e a adoção da tecnologia, incluindo a compra de diversas empresas. A unidade responsável por ele possui atualmente cerca de 7 mil funcionários.

A tecnologia do Watson foi totalmente repensada. Nos tempos em que foi criado para jogar Jeopardy!, ele era um computador do tamanho de uma sala. Atualmente, converteu-se em um software na nuvem, funcionando por meio da internet a partir de data centers. O software Watson foi dividido ao longo de dezenas de componentes de inteligência artificial independentes, incluindo um classificador de linguagem, um tradutor de texto para fala e uma área dedicada ao reconhecimento de imagens.

A IBM está tentando transformar o Watson em uma espécie de sistema operacional de inteligência artificial, que será usada para a construção de aplicativos. Quase 80 mil desenvolvedores baixaram e experimentaram o software. A IBM conta atualmente com mais de 500 parceiros comerciais – de grandes empresas a startups.

Fonte: New York Times, Estadão

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