Areia fecha foz do Rio Doce e lama de Mariana pode ficar sem saída para o mar

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As poucas chuvas em 2013 e 2014 baixaram  quantidade de água no Rio Doce e resultaram no fechamento da foz, a saída da água para o mar, em Regência, Linhares (ES). O estuário é uma área sensível por abrigar a reprodução de inúmeras espécies em extinção, como o mero e tartarugas marinhas. Lá funciona uma base do projeto Tamar.

A barra do rio já está fechada desde junho e, até agora, vinha prejudicando principalmente os pescadores locais, que não conseguem sair para o oceano. Com a chegada da lama vinda da barragem de Fundão, em Mariana (MG), a situação é crítica.

Corre-se o risco de a lama ficar estacionada na saída do rio, sem conseguir chegar ao mar, onde se dissolveria com mais facilidade. A prefeitura de Linhares e o Tamar afirmam que a fauna e a flora estão em risco com a chegada da lama.

Para tentar impedir que a lama fique represada em Regência, a Samarco, a prefeitura, o Tamar e os pescadores locais estão abrindo bocas para o mar. Nesta quinta e na sexta, dragas estão cavando os canais para ficarem prontos a serem definitivamente abertos quando chegar a água com lama. A previsão é de que isso aconteça entre sexta e domingo.

Com a eventual elevação do nível, espera-se que o rio tenha força para romper a maré. Nos últimos meses, a prefeitura abriu passagens, mas poucas horas depois o mar as aterrava novamente.

“A maior preocupação é a abertura da boca da barra, que está fechada há meses. Isso complica ainda mais a situação porque as áreas internas do estuário (berçário de peixes) são as mais sensíveis. Se a lama se acumular internamente fica mais difícil de se recuperar.”

Além da tentativa de abertura da saída para o mar, estão sendo instaladas 9 quilômetros de boias com barreiras físicas próximo à foz, para impedir que a lama se acumule nas margens e prejudique criadouros de diversas espécies.

Regência abriga 100 ninhos de tartarugas gigantes, cada uma com 10 mil ovos por ano – a cada mil nascidos, uma chega à idade adulta, aos 20 anos. É o único lugar na América do Sul que tem a presença da espécie e da tartaruga cabeçuda em reprodução. Ambas são ameaçadas de extinção. Por isso os ninhos já foram transferidos para locais seguros. “Se forem afetados, será uma catástrofe”, disse João Carlos Thomé, coordenador nacional do Centro Tamar/ICM Bio.
“Temos 24 horas para tomar as medidas preventivas. Depois é conter o dano”, disse Adriana Araújo, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.

“Se a lama ficar represada aqui, teremos um  dano incalculável”, disse Carlos Sangália, educador ambiental do Tamar e vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica da Foz do rio Doce.

Por isso, para ele, foi uma surpresa a decisão da Justiça Federal de punir a Samarco caso a água com lama saia para o mar. Isso seria ir contra todo o trabalho que vem sendo feito na foz, apoiado pelo Ibama e prefeitura, que é o de escoar a lama para o mar, onde se diluirá com maior facilidade, tendo em vista a quantidade de água.

Fonte: Época

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