Especial: Smart Grids no Brasil

smart-grid-infografico O setor elétrico está diante da oportunidade de evoluir e encontrar soluções práticas que reflitam a realidade dos consumidores e das empresas de energia do século 21. Eficiência operacional, novas fontes de energia, menor emissão de carbono, tarifas mais ajustadas e maior participação do consumidor são somente algumas questões que se apresentam como desafios a serem vencidos pelo segmento. Entretanto a maneira como a distribuição de energia é feita hoje é arcaica na visão de muitos especialistas. Dependemos muito de uma única fonte geraora (hidrelétricas) e, caso ela falhe, toda a rede fica sem abastecimento. A lógica do Smart Grid está em uma palavra: inteligência. Isso quer dizer que as novas redes serão automatizadas com medidores de qualidade e de monitoramento do consumo de energia em tempo real. Até hoje, as empresas de energia elétrica recebem as informações sobre o consumo dos clientes apenas uma vez por mês, graças ao trabalho dos leituristas, e também só sabem sobre um problema no fornecimento se alguém ligar para reclamar. Infográfico-para-o-consumidor-final_desvendando-o-smart-grid-642 Com o uso do medidor inteligente e de todo aparato tecnológico que a ele deve estar atrelado — uma rede elétrica automatizada e um sistema robusto de transmissão de dados —, é possível monitorar o consumo de cada cliente em tempo real. Eventuais falhas também são percebidas imediatamente. A AES Eletropaulo decidiu entrar na era das smart grids, seu projeto é disponibilizar para todos os 60 000 clientes de Barueri, cidade vizinha à capital paulista com 250 000 habitantes, os medidores inteligentes. “Trata-se do primeiro grande teste de smart grids no país”, diz Britaldo Soares, presidente da AES Brasil, holding dona da Eletropaulo. Para executá-lo, a empresa realizou um investimento de 71 milhões de reais. Por trás do desejo da AES Eletropaulo de testar a viabilidade da smart grid em Barueri, para então expandi-lo para toda a sua área de concessão, há uma série de razões. A primeira delas é que a rede inteligente permitirá à empresa detectar de maneira muito mais fácil as fraudes, o que ajudará na redução das perdas comerciais. Hoje, para identificar um desvio suspeito no padrão de consumo de um cliente, a empresa precisa esperar, pelo menos, um mês. Com o monitoramento de distribuição da energia em tempo real, qualquer dissonância virá à tona com muito mais rapidez. “Nossa estimativa é que a rede inteligente nos ajude a diminuir as perdas comerciais em Barueri em até 30%”, afirma Maria Tereza Velhano, diretora regional da AES Eletropaulo. Infográfico-para-o-consumidor-final_desvendando-o-smart-grid-643 A smart grid permite que vários consertos na rede, assim como o simples religamento da energia cortada, hoje feitos in loco, possam ser realizados de maneira remota,uma vantagem, sobretudo para os clientes de uma concessionária cuja área de concessão é famosa por ter o tráfego de veículos mais intenso do país como São Paulo. Passará a valer para os consumidores de baixa tensão, como residências e pequenos comércios, a chamada tarifa branca — ou preços diferenciados para a energia, dependendo da hora que ela for consumida. Ou seja, será possível economizar ao consumir fora dos horários de pico. Por isso, a adoção da smart grid tende a beneficiar o meio ambiente, já que incentiva um uso mais racional do recurso — esse é um dos aspectos que vêm impulsionando a disseminação dessas redes na Europa. No Brasil, a adesão ao smart grid caminha em lentos. O que já é uma realidade no país é a automação das subestações. Segundo o presidente do Fórum Latino-americano de Smart Grid e diretor da Ecoee, Cyro Boccuzzi, estes equipamentos já são adquiridos automatizados na atualidade. “Isso já é um padrão”, afirma. Um dos problemas para a maior difusão das redes inteligentes no Brasil é o seu alto custo de implantação. Neste sentido, ganha espaço no país as smart cities – cidades inteligentes – que consistem na utilização das redes inteligentes visando à habilitação de diversos serviços de utilidade pública, além do serviço de distribuição de eletricidade, tais como: controle semafórico e de tráfego; iluminação pública; segurança pública; abastecimento de água e gás; telecomunicações, entre outros. Para construir tal cidade, seria necessário o esforço de diversos agentes. Dessa forma, os investimentos seriam divididos, o que tornaria o processo menos custoso também para a própria distribuidora de energia elétrica. Entretanto, antes da realização em larga escala desse tipo de cidade, são necessários testes, que estão sendo efetuados pelas próprias distribuidoras. No Brasil, são quatro os projetos pilotos de cidades inteligentes: o projeto Cidades do Futuro, realizado pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), no município de Sete Lagoas; o projeto Parintins, implantado pela Eletrobras no munícipio de Parintins (AM); o projeto InovCity, realizado pela Bandeirante, em Aparecida (SP) e em dois municípios do Espírito Santo: Domingos Martins e Marechal Floriano; e o projeto Cidade Inteligente Búzios, realizado pela Ampla, em Armação de Búzios (RJ). Lançado em dezembro de 2009 e finalizado operacionalmente no final de agosto de 2014, o projeto Cidades do Futuro foi implementado com o intuito de desenvolver um modelo funcional para smart grid, a fim de se obter uma metodologia para subsidiar a decisão de implantação em larga escala de projetos como este na Cemig. “O projeto desenvolverá uma visão estratégica sobre a implantação de soluções smart grid na rede da Cemig, que seja adequada ao contexto socioeconômico e regulatório do Brasil”, explica o diretor do Programa Smart Grid da Cemig e coordenador do projeto, Geraldo Tadeu Batista. ed-105_Reportagem_fig-1 Durante os quase cinco anos de trabalho, foram realizadas a instalação de cerca de cinco mil medidores inteligentes; a implantação de 46 pontos de automação com sefhealing, software para otimizar o processo de operação do sistema na reconfiguração da rede; a implantação de várias mídias de comunicação para testes, tais como: rede de fibra óptica, rádios 400 MHz, gateways, sistema celular, rede HFC (Hybrid fiber-coaxial), satélite; e a instalação de 66 painéis fotovoltaicos conectados à rede para estudo dos impactos de sua utilização nas redes da Cemig. Além disso, fez parte do projeto Cidades do Futuro ações que fortaleceram a participação do consumidor de energia elétrica. Entre as quais a realização de pesquisa quantitativa e qualitativa para medir a análise da percepção do consumidor e a propensão ao uso das novas tecnologias; e o desenvolvimento de interfaces de relacionamento, tais como: calendário de consumo, simulador de consumo, jogos interativos, aplicativo mobiles (tablet, smartphone), gestão de ativos de telecom, reconfigurador da rede (sefhealing), integrado SOA. Portanto, ainda existe um longo caminho até que a smart grids e smart cities se desenvolvam por todo país, mas com certeza é uma tecnologia que vai ganhar cada vez mais espaço no cenário nacional e vai se tornar uma realidade para os consumidores. Fontes: Exame, Gizmodo, CPqD, O Setor Elétrico logopet