Líder caiapó diz que haverá guerra se governo insistir em fazer Belo Monte

Presidente reuniu representantes de 22 etnias para falar de usina.
‘Índio não quer construir. Branco quer’, disse, sobre projeto de hidrelétrica.

O líder caiapó Akiaboro disse nesta quarta-feira (2), após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com etnias indígenas, que “haverá guerra entre índios e brancos” se o governo mantiver o projeto de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará.

Cacique Akiaboro, líder geral de todas as aldeias Caiapó, após reunião com Lula e membros do governo
Cacique Akiaboro, líder geral de todas as aldeias caiapó, após reunião com Lula e membros do governo (Foto: Renato Araújo/ABr)

 “Meu povo está brigando contra Belo Monte porque não quer a usina. Quero sentar e conversar antes que tenha guerra e problema que vai acontecer depois vai [deixar] nome do governo sujo”, disse o líder caiapó. “Índio não quer construir. Branco quer. Os dois vão começar a brigar por causa de Belo Monte”, afirmou.  

Lula reuniu nesta quarta, durante a 13ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, representantes de 22 etnias, o ministro da Justiça, Paulo Barreto, e o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, para apresentar o projeto do governo de construção da usina no Pará.  

Segundo Akiboro, os indígenas foram excluídos do processo de aprovação da obra de Belo Monte. No dia 20 de abril, o consórcio Norte Energia venceu o leilão para a construção da hidrelétrica. “Foi por cima da lei e não foram ouvidos os indígenas. Se índio não quer, então não quer. Se índio quer, aí sim tem que encaminhar para o Congresso Nacional.”

Vazão do Rio Xingu cai muito em época de seca
Rio Xingu, onde vai ser construída a usina de Belo
Monte (Foto: Mariana Oliveira/G1)

O presidente da Funai afirmou que o governo prometeu “maior diálogo” sobre Belo Monte. Ele ressaltou que o projeto final da usina é diferente do que foi discutido há 30 anos. Segundo ele, foram feitas modificações para que o impacto nas aldeias indígenas seja o menor possível. “O presidente [Lula] se referiu à necessidade de continuidade do diálogo sobre o empreendimento. O presidente colocou que o projeto foi modificado”, disse.  

No entanto, Márcio Meira sinalizou que o plano de construção da usina não deve ser novamente alterado para atender às reivindicações dos índios. “O presidente deixou claro que nem tudo o que os indígenas solicitam o governo tem que concordar”, afirmou.  

Meira disse ainda que Lula deve assinar nos próximos dias um decreto que regulamenta a Secretaria Nacional de Saúde Indígena. Segundo ele, nos últimos sete anos houve avanços na qualidade de vida dos índios. “O governo Lula mudou a relação do Estado com os povos indígenas”, declarou.

Índios acampados
As lideranças indígenas que se reuniram com o presidente apresentaram um documento em que dizem não apoiar as reivindicações do cerca de 70 índios acampados há cinco meses na Esplanada dos Ministérios. O grupo cobra do governo a anulação de um decreto que acaba com unidades regionais da Fundação Nacional do Índio (Funai) em alguns estados. Também exige a troca imediata do presidente da fundação.

Segundo o líder guarani Anastasio Peralta, os índios acampados estão sendo “influenciados por brancos”. “Não apoiamos [o movimento]. A mentalidade deles é [feita] por outras pessoas que não são índios”, disse.

Fonte : G1