Amigos-robôs e animais eletrônicos: a vida com inteligência artificial

imagem2Jesús Cardeñosa Lera acredita que até 2050 sociedade estará habituada a conviver e se relacionar com máquinas que parecem humanos e prometem dividir a casa e o trabalho com as pessoas.

Ele é um dos maiores especialistas sobre Inteligência Artificial do planeta e esteve em Florianópolis para falar sobre Engenharia Linguistica durante a VI Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico e III Encontro Internacional da Cátedra da Unesco Teclin – Tecnologias Linguísticas, ao lado de outros colegas do Chile, Peru, Argentina e do Brasil, aqui da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

PHD em Ciência da Computação, o professor e pesquisador da Universidade Politécnica de Madrid (Espanha), Jesús Cardeñosa Lera é um homem otimista quanto ao futuro/presente da tecnologia. Diferentemente das profecias apocalípticas onde a sociedade é refém e dominada pelas máquinas, em uma revolução à la Matrix ou Black Mirror, o palestrante acredita em um convívio mais harmonioso e amigável, com robôs e animais domésticos eletrônicos – em pouco tempo.

Nesta entrevista exclusiva para o blog Conect@ados, Lera comenta sobre a evolução da internet, a queda da web semântica e o papel que a Inteligência Artificial ocupa(rá) na nossa vida.

Afinal, a partir de quando a Inteligência Artificial (AI) faz parte da nossa vida, cotidianamente?

Já tem cerca de 60 anos que o termo Inteligência Artificial foi conceituado, nos Estados Unidos, por um grupo de jovens pesquisadores. Esse grupo, na época muito jovem, definiu a IA como  a ciência capaz de criar máquinas que poderiam pensar, aprender e criar coisas novas. Evidentemente, essa conceituação não era completamente correta, na forma literal. Mas parece ser. Hoje, por exemplo, é possível criar um artigo de texto a partir de um algoritmo. Um artigo com completo sentido e coerência, mas precisa ser programado por indivíduo, um agente humano. O que quero dizer com isso? A ação humana ainda está por trás de tudo que as máquinas fazem. Então, essa questão de que assistiremos as máquinas tomando decisões contra os homens e a sociedade é uma ameaça pouco provável. A não ser que nós as programemos para que nos aniquilem.  As máquinas pensam? Não! Elas parecem pensar porque foram programadas para isso.

Nesse sentido, o que faltaria às máquinas, para se igualarem à condição humana de diante de padrões de comportamento. Faltaria a intenção, o poder de decidir, a iniciativa?

Na verdade, as máquinas, aqui os computadores, podem, claro, ter essas características e comportamentos, mas não agirão por conta própria. Não na atualidade. O que acontece, às vezes, é que, quando manuseamos grandes quantidades de dados em busca de relações, a partir de uma hipótese, podemos cometer um erro de variável, de cruzamento destes dados, e, aí, sim, a inteligência da máquina poderá parecer má, tomando uma decisão no que foi dito a ela. Se você programa um computador para gerenciar o lançamento de mísseis e, por um azar, comete um erro de evidências de perigo que acionem o tal míssil… Esse seria um efeito colateral de uma programação e manuseio de dados com erro. É como pensarmos uma máquina trabalhando a partir de informação recebida. Um erro é fatal. Ela não irá distinguir e reavaliar. O míssil está lançado.

A compreensão e os sentidos, definitivamente, são elementos detonadores para que as máquinas assumam comportamentos, correto? A chamada web semântica parece não ter cumprido seu papel como se previa – e ficou na projeção. Que web estamos criando?

Se dizia que iríamos extrair dados e qualificar, com base no que as pessoas falavam, pesquisavam e publicavam e os cruzariam com o que teríamos de informação das instituições, governos, etc… para, enfim, criar novas informações, a partir dessa coletividade de dados. Bom, isso é uma utopia. Não se tinha capacidade de processamento e nem modelos para filtrar esses dados. Por isso, em pouco tempo, a web semântica saiu de moda. Ficou no âmbito da ciência e pesquisa, não da realidade do usuário. O mesmo aconteceu com o conceito de Linked Date (sistemas de dados entrelaçados entre si). Agora, vivemos por uma web na nuvem e baseada no chamado Big Data, as grandes bases de dados que estão por aí. O que é interessante esclarecer é que este princípio, prioritariamente, prevê fluxo contínuo de dados alimentando bancos. Se não houver produção, organização e interpretação regular e contínua, não temos o Big Data.

O maior buscador do mundo, o Google, é uma ferramenta que está mais próxima da Inteligência Artificial?

O Google não tem esse tipo de inteligência, mas sim 15 mil servidores espalhados pelo mundo. A grande sacada do buscador é sua forma de organização, de indexação, que coloca as informações em ordem. Imagine que você tem milhões de documentos e acaba de receber um novo: onde ele será armazenado, em que ordem, categoria e classificação? Isso é o que o Google, grosso modo, faz. Costumo dizer que o Google não é uma empresa tecnológica, mas uma empresa comercial.  Microsoft tem perto de 50 mil programadores. Google não tem mil.

Daqui a dez anos, onde podemos ver a Inteligência Artificial materializada?

Por tudo, em qualquer operação, troca e relacionamentos. É muito provável que tenhamos robôs domésticos, embora eu prefira não arriscar a forma física dele. Mas você falará com ele. Já ele, irá aprender sobre ti e contigo. Conhecerá você melhor do que você mesmo. O robô será um amigo, uma companhia que te ajudará a cuidar da casa, a ter uma saúde melhor. Os pesquisadores do Japão já preveem isso para logo. Em 2050, teremos também animais domésticos eletrônicos, como cachorros, idênticos aos animais que temos hoje. Já conseguimos criar movimentos exatamente iguais. É só uma questão de tempo.

E quanto às emoções, como serão processadas, por exemplo?

Essa é o ponto delicado. Nem mesmo o ser humano sabe interpretar bem as emoções. Agora, veja o quanto é difícil modularizar essas emoções para um artefato eletrônico, como um cão ou um ciborgue. Porém, caminhamos para isso. Os comportamentos anteveem reações prováveis, não é verdade? Quando quer conquistar alguém, o que faz? Sorri, tenta ser amável, gentil e espera isso de volta. Você sabe o que tem que fazer. A máquina também vai saber.

Fonte: Noticias do dialogo_pet2