Chuvas Artificiais: É Possível Controlar o Clima?

Não importa de qual região você seja, basta fazer uma pesquisa na internet ou assistir ao jornal  para obter uma previsão do tempo detalhada dos próximos dias. Mesmo que nem sempre essa previsão seja exata, ela continua sendo de extrema importância para diversas atividades, como a navegação e a pesca, e até mesmo na vida pessoal de cada um. Mas e se pudéssemos não apenas prever, mas também controlar o clima? Fazer chover em regiões de seca, impedir o excesso de chuva em áreas de enchente, desviar o curso de tempestades e tornados, os benefícios seriam imensuráveis.

 Esse feito, que diversas civilizações ao longo dos séculos tentaram alcançar, já é parcialmente  possível com a atual tecnologia, mais comumente através das chuvas artificiais. Foi o que presenciamos em Julho de 2021, quando os Emirados Árabes fizeram chover em Dubai para combater o calor de 50°C. Mas como é possível criar chuva artificial? Essa técnica é realmente confiável? É o que discutiremos a seguir.

Semeadura de Nuvens

A chuva artificial é criada a partir de um processo chamado semeadura de nuvens, no qual nuvens são semeadas com pequenas partículas para fazer chover ou nevar.

A composição das nuvens consiste em gotículas de água que são muito pequenas para caírem do céu, e estão suspensas no ar pela ação das correntes de vento. A semeadura de nuvens se baseia em pulverizar nelas certos componentes químicos, como o cloreto de sódio, iodeto de prata e o gelo seco (gás carbônico congelado), que irão fazer essas gotículas menores congelarem, se atraírem, e assim se tornarem pesadas o suficiente para caírem como chuva. Assim, a técnica está acelerando um processo natural, sendo incerto se a chuva ocorreria ou não sem ação exterior. Essa prática em geral é feita por aviões despejando a substância química ou carregando foguetes de sal, esses podendo também serem lançados de terra firme.

Os experimentos com semeadura de nuvens foram conduzidos pela primeira vez em 1946 pelo meteorologista americano Vincent J. Schaefer, e atualmente cerca de 50 países desenvolvem pesquisas na área. Outro método mais recente é a utilização de drones para dar descargas elétricas nas nuvens. Através dessas descargas, as gotículas de água da nuvem são estimuladas e se colidirem gerando gotículas maiores que eventualmente ficam pesadas o suficiente para cair como chuva. Uma forma de entender isso é imaginar gotas de chuva na janela, que ficam suspensas até uma gota maior descer e absorver elas, puxando-as para baixo.

Esse foi o método utilizado para a chuva artificial de Dubai em Julho. Podemos ver uma foto abaixo do drone utilizado.

Controvérsias

Assim, com a tecnologia atual já é possível fazer chover. Mas se podemos confiar nela e se devemos usá-la, são questões que geram bastante controvérsia .O clima tem uma natureza caótica e devido a isso, diversas tentativas de semear nuvens fracassam. Um exemplo disso foi em Janeiro de 2019, quando a Coreia do Sul tentou combater a poluição em Seul com chuva artificial, contudo as partículas de precipitação não foram estimuladas o suficiente para gerar chuva.

Para além do fracasso, a técnica pode causar grandes transtornos e catástrofes. Foi o que ocorreu em Dubai em 2019, veja abaixo:

Outro exemplo foi em 2009 na China, quando a semeadura de nuvens acabou resultando em uma queda de temperatura extrema e uma tempestade de neve, gerando caos em Beijing.

Uma das razões dos fracassos é que esses testes costumam ocorrer sem passar por uma validação científica anterior. Outra desvantagem é que o processo é caro e necessita de nuvens pré-existentes para que faça chover. Dessa forma, o custo benefício pode ser prejudicial.

A incerteza dos impactos desses experimentos numa região também pode levar à conflitos entre nações. Em Dezembro de 2020, o anúncio da China do seu plano de expandir seu programa de chuva e neve artificial de cobrir 5,5 milhões de quilômetros quadrados até 2025 gerou respostas negativas por parte da Índia, onde a agricultura depende fortemente da estação das chuvas.

Situação no Mundo

Apesar das controvérsias, muitos países seguem investindo em programas de semeadura de nuvens. Segundo dados do World Resource Institute, mais de 30 países podem enfrentar crises hídricas graves nos próximos 25 anos, e pelas estimativas do Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes, a técnica poderia aumentar a incidência de chuva em 30 até 35% numa atmosfera limpa, e 10 até 15% numa atmosfera turva. Ela também poderia ser usada para combater a poluição, mitigar chuvas de granizo e ter grandes impactos na agricultura e em áreas secas.

Não apenas fazer chover, mas também vem sendo desenvolvido técnicas para parar a chuva. Foi o que a China fez em 2008 nas Olimpíadas de Beijing, quando disparou foguetes nas nuvens para dispensá-las e impedir a chuva de se formar durante o evento. 

Países de economia emergente estão entre os que mais investem na área, como a já citada China e os Emirados Árabes. Além desses, a Tailândia e a Indonésia já anunciaram um acordo de três anos de parceria nas pesquisas do tema, e a Etiópia vem fazendo esforços consideráveis em utilizar a técnica para impulsionar a agricultura no continente africano.

No pioneiro Estados Unidos, muitos estados  também têm programas de semear nuvens, como podemos ver na imagem abaixo:

No Brasil, a técnica também já foi utilizada em alguns projetos. O primeiro deles foi no Ceará em 1950, numa tentativa de semear nuvens para contornar a seca no Semiárido. O programa foi encerrado 50 anos depois, devido a ausência de resultados significativos. Já no estado da Bahia ela foi utilizada com sucesso em 2012, num projeto que buscava garantir a boa condição do solo e salvar produções de abacaxi em Itaberaba ameaçadas pela seca. Apesar do sucesso, o custo do projeto estava alto, custando cerca de 6 milhões de reais ao ano, o que levou ao seu fim. A tentativa mais recente foi em 2020, onde a Ambev financiou uma empresa para adiantar a ocorrência de chuvas para que não atingissem São Paulo durante o carnaval.

 Debates sobre a questão da água estão cada vez mais frequentes. Para acompanhar outras discussões, leia também : A Dessalinização da Água.

Texto por: Gustavo Elias Cândido

Referências: