Projeto de geração de energia marítima no Porto do Pecém está abandonado

O Brasil está a poucos paunnamed1ssos de sujar sua matriz energética, mesmo até pouco tempo tendo liderado a frente de defesa da produção de energia de fontes renováveis, como etanol, biodiesel, eólica e solar. A leitura surge de um amplo estudo sobre sustentabilidade e economia verde, feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Febraban, em fase de conclusão.

Os motivos da mudança de prioridade, segundo a análise, seriam a descoberta e o início da exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal, o excesso de acomodação com as usinas hidrelétricas, além de aspectos tecnológicos e econômicos.

Mas o Brasil não pode perder essa onda, alertam cientistas e especialistas. O país começa de forma tímida a desenvolver tecnologia nacional para gerar energia elétrica com as ondas do mar. Com 8 mil quilômetros de costa, e um potencial que pode chegar a 114 gigawatts (praticamente a atual capacidade instalada de energia elétrica no país), o Brasil teria tudo para se tornar um dos líderes globais do setor de energia marítima, que engloba também o movimento das marés.

Até o momento, o Brasil está entre os 12 países que correm para se destacar nesta nova fronteira energética. O segmento de energia marítima deve ter seu padrão tecnológico definido até 2020 e se tornar viável economicamente em 2025. Mas o país está numa encruzilhada, pois começa a enfrentar o desafio de investir mais recursos e de fechar parcerias com empresas.

No total, já existem seis tecnologias para energia marítima. Na elite mundial do segmento estão Reino Unido – o país mais avançado, com centro de pesquisas para o setor -, Estados Unidos, Dinamarca, Portugal, China, Noruega, Canadá e Austrália. França e Coreia do Sul já possuem projetos comerciais em energia das marés, mas este segmento começa a ser abandonado pelo forte impacto ambiental que tem no litoral. A Índia avança nas pesquisas, mas seu objetivo principal é a obtenção de água doce.

O professor Ivan Eduardo Chabú, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), alerta que embora as pesquisas tecnológicas no Brasil estejam praticamente no mesmo nível das de outros países, aqui o número é reduzido: as principais, com o desenvolvimento de protótipos, são da Coppe/UFRJ. Uma delas foi feita, mas já abandonada, no Porto de Pecém; e outra está em desenvolvimento no Rio. Em outros países há mais de cem pesquisas e projetos em desenvolvimento.

– O Brasil investe muito pouco em pesquisas nessas tecnologias diferentes, exóticas. Mas é preciso desenvolver agora, porque não sabemos como será nossa matriz energética daqui a 20 anos, para não ficarmos atrás do resto do mundo, como aconteceu com a eólica – destaca Chabú.

O financiamento das pesquisas poderá vir das empresas, pois de acordo com as regras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), 1% do faturamento do setor tem de ser empregado em pesquisa e tecnologia. Outra alternativa é fazer uma parceria estratégica com a China, que já procurou a Coppe.

Embora tenha sido considerado um “sucesso”, o projeto de Pecém foi abandonado há um ano, pelo fim do contrato de pesquisa com a Tractebel, multinacional que investiu R$ 15 milhões no empreendimento, e por necessitar de melhorias tecnológicas, segundo a Coppe. Esta iniciativa, dizem, gerou muito conhecimento.

– Pretendemos, no futuro (2017), retomar experimentos no Ceará. Vamos primeiro testar o novo protótipo do Rio – diz o professor Segen Estefen, do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ.

Além de necessitar de alterações tecnológicas, a mudança no porto auxiliou no abandono do projeto, que se for retomado ficará em outro local. O presidente da Tractebel Energia, Manoel Zaroni Torres, reafirmou o interesse em uma retomada:

– Aproveitamos toda a estrutura criada para o desenvolvimento do petróleo e do pré-sal para criar esta tecnologia, mas temos consciência dos problemas, pois agora precisaremos de no mínimo R$ 280 milhões, para torná-la comercial.

Fonte: Ceará Agora