Luz vai continuar mais cara em 2016

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Apesar dos reservatórios um pouco mais cheios e das previsões de chuva, a conta de energia continuará pesando no bolso em 2016. Alta deve superar 10%

Mesmo com a promessa de um verão com chuvas dentro da média histórica, os reservatórios do Sudeste não devem se recuperar a ponto de garantir a bandeira verde, que sinaliza para tarifas mais baixas. O ano que vem, deve registrar mais um período de energia cara para o consumidor. Depois de 2015, em que o custo do insumo variou perto de 50% e fez tanto a indústria quanto as famílias pisarem no freio, em 2016 a alta deve superar 10%, pelos cálculos de analistas ouvidos pelo Estado de Minas.

A bandeira verde, se houver, deve ser temporária e, mesmo assim, vai depender do volume de chuvas no verão. Cálculos da consultoria Tendências apontam para uma alta de pelo menos 12% na energia elétrica em 2016. Apesar do reajuste ainda pesado, ele será suficiente para reduzir a inflação em 1,5 ponto percentual, puxando o índice para o teto da meta. “Trabalhamos no ano que vem com a perspectiva de uma inflação de 6,5% com viés de alta e a energia elétrica vai continuar como peso importante no índice”, diz o analista da Tendências, Márcio Milan.

O sistema do Sudeste/Centro- Oeste, responsável por mais de 70% da capacidade do país, está em 27,7%. No mesmo período do ano passado, o percentual era de 16%. A melhora no nível dos reservatórios, no entanto, está longe de ser satisfatória e deve manter o ciclo de alta. “É preciso pelo menos três anos de chuvas para recompor os reservatórios, um ano de chuvas na média histórica não vai normalizar o sistema”, diz Walter Fróes, diretor da CMU, comercializadora de energia.

Froes também calcula um reajuste próximo a 10% nas tarifas e trabalha com a perspectiva de 2016 ser um ano de bandeira amarela para o consumidor. “Pode haver períodos de bandeira verde, mas transitório, e, mesmo assim, se o nível de chuvas surpreender.” Segundo o executivo, mesmo com o reajuste pesado, os valores não foram suficientes para remunerar a geração térmica. “O que evitou a crise na geração elétrica foi a crise econômica”, comentou.

Este ano o consumo de energia foi reduzido também nas famílias. No terceiro trimestre, últimos dados disponíveis, o consumo residencial no Sudeste, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), reduziu 3,8%. No acumulado do ano, o freio chega a 2,2%. O número é uma novidade para especialistas. Juliana Marreco, doutora em planejamento energético, explica que o consumo das famílias era considerado inelástico, sem grandes oscilações independentemente do preço.

Com a alta dos custos, o que parecia seguir uma rota de equilíbrio foi reduzido, as famílias passaram a gastar menos. A especialista diz que a sensação de que a geração de energia elétrica está controlada é falsa. “O país só não enfrentou um racionamento porque não está crescendo. Algumas indústrias chegaram a desativar a produção, preferiram comercializar seu contrato de energia, devido ao alto preço do insumo”, aponta. Juliana também acredita que a bandeira vermelha ainda vá permanecer em alguns meses de 2016. No terceiro trimestre de 2015, o consumo industrial no Sudeste caiu 5,8%. No país, foi reduzido em 5,3%.

Mercado

No ano passado, Juliana Maranhão, especialista em pães artesanais, montou um negócio em sua casa. Seus pães misturam temperos e sabores doces e salgados e vêm conquistando o cliente com o sabor feito em casa. Em 12 meses, seu crescimento foi de 500%.

A demanda deu um salto, mas o alto custo da energia freou a lucratividade. Segundo ela, o peso da energia no custo da produção fica perto dos 10%. Para tentar compensar a tarifa vermelha, ela está usando também o forno a gás, começou a negociar com os fornecedores e buscar também novos vendedores da matéria-prima. Seu negócio, Le Pain du Jour, chega a produzir mais de 400 pães por semana. “Como temos que engolir a tarifa de energia, que é fixa, tentei reduzir os custos que posso, porque não dá para aumentar o preço do produto. Este ano, não fiz reajustes”, comentou.

João Camilo Pena, especialista em energia, ex-presidente de Furnas, acredita que qualquer discussão sobre redução de tarifas de energia só deve ser possível a partir de março do ano que vem, quando o país terá a verdadeira dimensão do nível dos reservatórios e uma projeção do despacho das térmicas.

Em Belo Horizonte, o peso da energia elétrica na inflação medida pela Fundação Ipead/UFMG foi de 3,75%. “É um item muito importante no cálculo da inflação e no dispêndio das famílias. O peso da energia elétrica é próximo ao da gasolina comum (3,78%), e do plano de saúde individual (3,43%) e fica abaixo do peso do IPTU (5,67%), por exemplo”, explica Thaize Martins, coordenadora da pesquisa. Em 2015, a energia elétrica foi o sétimo item mais pesado no cálculo da inflação, depois do empregado doméstico, IPTU, refeição fora de casa, condomínio, automóvel novo e gasolina.

Fonte: Estado de Minas

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