A situação no Amapá está gravíssima

No dia 3 de novembro, por volta de 20h30, em uma subestação na Zona Norte do Macapá, a mais importante do estado, começou-se um incêndio. Com isso, as linhas de transmissão e duas hidrelétricas foram automaticamente desligadas. No início, havia a suspeita de que o incêndio teria se iniciado por causa de um raio, já que estava chovendo muito na cidade.

A subestação em caso alimenta 13 das 16 cidades do estado, ou seja, só os municípios de Oiapoque, no extremo Norte, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, no extremo Sul, permaneceram com energia, pois são alimentados por sistemas isolados.

Tudo começou com uma tempestade em Macapá. Um raio atingiu a subestação provocando uma explosão e dando início ao incêndio. O fogo danificou um transformador que estava em pleno funcionamento e atingiu outros dois, sendo que um deles já estava inoperante em decorrência de manutenção. O incêndio permaneceu por um longo período de tempo devido a dificuldade de combatê-lo.

Os impactos do apagão apareceram rapidamente. Mais de 760 mil pessoas ficaram sem energia elétrica. O sistema hidráulico do estado inteiro foi afetado, deixando a população sem água encanada, água mineral e gelo. Sem luz, os caixas eletrônicos, as bombas dos postos de gasolina e todas as conexões de internet e telefonia pararam de funcionar. 

O cenário era de completo caos e, dentre os diversos setores atingidos, o que mais chamou a atenção foi o da saúde. Os hospitais continuaram operando através de geradores a diesel. A única maternidade pública do estado, localizada em Macapá, ficou sem luz atendendo um total de 18 recém nascidos. O Hospital de Emergências (HE), principal pronto-socorro da capital, precisou interromper cirurgias porque ficou momentaneamente sem óleo diesel para os geradores. E nos hospitais de combate do coronavírus, a crise foi agravada.

O Ministério de Minas e Energia (MME)  informou na manhã do dia 7 de novembro, após quase 4 dias de completo apagão, que o sistema elétrico de Macapá voltou a ser conectado à rede de Transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN), com a conclusão de reparos em um dos transformadores da subestação Macapá (230/69 kV). 

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Só se conseguiu restabelecer cerca de 65% do sistema elétrico. Por essa razão, o governo estabeleceu um sistema de rodízio de energia com duração de 6 horas por região e com priorização de hospitais, serviços públicos e bancos. Descontente, a população reclama alegando descumprimento do cronograma. Ao invés de 6 horas, muitos disseram receber apenas 2 horas. Além disso, se sentem desrespeitados com o descaso, já que, além da falta de energia elétrica, várias comunidades sofrem com a falta de água, com o desabastecimento de itens essenciais nos mercados e ainda com a comida estragando por falta de refrigeração.

O diretor-presidente da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) informou que ainda estão se adequando ao rodízio e atentou para o fato de que, devido a complexidade do sistema, só a manobra para desligar uma região e religar outra, demora cerca de 30 minutos. 

Na quarta feira (11/11), nono dia do apagão, o Ministério de Minas e Energia informou que o fornecimento de energia elétrica aumentaria para 80%, mas por outro lado, no dia seguinte, a CEA mudou o cronograma do rodízio, reduzindo para 3 horas ou 4 horas de distribuição por região. 

Durante 5 dias seguidos, foram registrados cerca de 70 protestos por causa do apagão e das falhas no rodízio de energia. Manifestantes bloquearam rodovias, queimaram pneus, depredaram espaços públicos reivindicando a normalização do serviço de energia.

Segundo a Polícia Civil, que investiga as causas do apagão, o laudo preliminar descartou que o transformador da subestação que pegou fogo tenha sido diretamente atingido por um raio. O perito identificou que o fogo começou em uma bucha.

Após solicitação da Delegacia de Crimes Contra o Consumidor (Deccon), a Justiça estadual bloqueou R$ 50 milhões em bens e ativos da concessionária que opera a subestação que pegou fogo para reparação de danos aos consumidores.

O governo federal prevê que a distribuição volte a 100% até o fim desta semana, mas o prazo judicial obriga uma solução até quinta-feira (12/11).


Por: Giovanni Tomasco