Especial – Uma análise sobre o horário de verão

horario de veraoA adoção do Horário de Verão (HV) sempre provocou polêmicas e esse debate precisa ser mais qualificado, com a ajuda dos meios de comunicação, que raramente o aprofundam. Nessa presente reflexão não entraremos na questão do gosto pessoal pela adoção ou não do Horário de Verão e nem nas discussões acerca de outros impactos da adoção do HV focando apenas nas razões apontadas pelo setor elétrico, para a introdução do mesmo. O principal motivo para a adoção do HV é, segundo o Governo Federal (Ministério das Minas e Energia), a redução da demanda máxima do Sistema Interligado Nacional (SIN) no período de ponta. Segundo o discurso padrão anualmente ecoado por toda a imprensa, graças ao HV o pico de energia na hora da ponta será reduzido – sempre na ordem de 4,5%. Adicionalmente, segundo essa mesma Nota, a adoção do HV propicia outros benefícios dentre esses uma economia de energia, da ordem de 0,5 % (0,4% na edição do HV 2012-2013). Entretanto algumas questões permanecem obscuras.

Primeiramente não é devidamente explicada a metodologia que avaliou esses números, apenas mostrando um gráfico comparando as curvas de carga alguns dias que antecedem e precedem o início e o fim do HV.  É questionável a afirmativa sobre a existência de economia de energia elétrica (utilização de uma potência instalada durante um tempo), por conta do Horário de Verão, estimada em 0,4% na edição do HV 2012-2013. Alguns estudos feitos ao redor do mundo têm mostrado divergências em relação à existência de alguma economia de energia com o HV.

Em segundo lugar, a necessidade do alívio da demanda máxima no Verão é controversa, pois, na realidade, os maiores registros de demanda máxima no horário de ponta do Sistema Interligado Nacional costumam acontecer no início da primavera e do outono e não no verão, conforme atestado no próprio site do Operador Nacional do Sistema (ONS). Além disso, podemos elencar outras desvantagens:

  • Os estados do Norte e Nordeste não podem usufruir das vantagens do horário de verão;
  • Interfere na programação das emissoras de rádio, televisão e nas agências bancárias nas regiões onde não é adotado o horário de verão;
  • Impede o início dos trabalhos agrícolas mais cedo, uma vez que a atividade rural é gerida não pela hora do relógio, mas pela luz natural.

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As alternativas para a atenuação do problema do pico de consumo nas horas de ponta poderiam ser:

  • Dotar o país de um amplo programa de disseminação de aquecimento solar com coletores solares planos em substituição aos chuveiros elétricos. Com a instituição desse programa pelos Municípios, Estados e União, em parceria com a iniciativa privada, poderia reduzir a demanda de pico, na proporção da penetração desses sistemas solares.
  •  Aumentar a confiabilidade do sistema de transmissão e sua capacidade de carregamento, com a disponibilização de mais investimentos em novas linhas e no reforço das existentes.
  • Introdução de um sistema de tarifação inteligente – medidores inteligentes- dos quais as concessionárias de distribuição já tem grande experiência, dando incentivos aos consumidores que concentrarem suas cargas em períodos fora de ponta.
  •  Onde for possível, instalar meios alternativos de aquecimento de água, como sistemas de aquecimento a gás.
  •  Finalmente a melhor de todas as soluções para reduzir o consumo de energia: a implementação de um massivo programa de eficientização e racionalização energética, que é a forma ambientalmente mais correta e econômica de utilizar a energia. O potencial de redução e otimização energética com a eficientização é gigantesco e traria maiores efeitos práticos para o setor elétrico e menores impactos para a população do que a adoção do HV.

Em contra partida, as discussões e os debates em torno do futuro do planeta visam uma conduta menos agressiva ao meio ambiente. As vantagens ambientais do HV são comprovadas, já que a economia e utilização racional da eletricidade contribuem para uma cultura de uso inteligente desse insumo tão valioso.

É enorme a polêmica sobre o impacto do HV na vida cotidiana, como as alterações circadianas, sacrifício para quem acorda muito cedo (que também obriga a gastar energia com iluminação) para trabalhar, aumento de acidentes de transito e de trabalho, insônia e stress. O verão por si só, com ou sem HV, permite dias mais longos sem prejudicar ninguém e nem nada, a não ser a diminuição do chamado Horário Nobre das TVs.

A atitude mais transparente para quem implanta o HV, seria explicitar as razões reais que o justificam, com ampla abertura a todos os setores da sociedade brasileira e não responsabilizar o setor elétrico por esse mal desnecessário. Não é socialmente justo expor a população a esse sacrifício, sem uma razão mais forte e bem fundamentada que justifique sua adoção.

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Fonte: Revista Vértice