Corrida Espacial do Século XXI: Em busca de Marte

Na segunda metade do século XX o mundo assistia a corrida entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) pelo domínio da exploração espacial, ambas almejavam se tornar a primeira a dominar a Lua. A rivalidade entre as duas potências terminou em 1975, mas em pleno 2021 vemos o desenrolar de outra corrida espacial. 

Com outros destinos em mente, agora os países querem dominar não só a Lua, mas o espaço inteiro. O objetivo principal da vez é Marte. O planeta mais acessível do nosso sistema solar, possui uma geologia e atmosfera complexas como as da Terra, e é visto como uma possibilidade para se tornar o segundo lar da humanidade. O sonho da vida interplanetária se torna mais real à medida que novas descobertas são feitas, como quando cientistas italianos descobriram água líquida subterrânea no planeta, no ano de 2018. 

Só no ano passado foram previstas quatro missões diferentes para chegar em solo marciano. Diversos países, um único objetivo: entender Marte.

EUA

A missão Mars 2020 é a quinta dos EUA no planeta, sendo a que conta com mais experiência. Lançada em julho de 2020, enviou um rover (veículo espacial equipado com instrumentos para realizar exploração de ambientes de planetas), chamado Perseverance (ou Perseverança). Ele está equipado com uma broca e tem como objetivo buscar sinais de que o planeta já foi habitável e investigar os vestígios arqueológicos da vida microbiana em Marte. 

Em 6 de abril, a Perseverance usou a câmera Watson (Sensor Topográfico de Grande Angular para Operações e eNgineering) para tirar esta selfie ao lado do helicóptero Ingenuity. Esta foto é composta por 62 imagens individuais que foram costuradas depois de enviadas para a Terra — Foto: Nasa
Rover da NASA em Marte. Fonte: NASA

Mars 2020 também será a mais inovadora. Além do rover, foi enviado também um drone-helicóptero que será a primeira aeronave a testar voo em outro planeta. Ele tem como objetivo sobrevoar e tirar fotos do planeta vermelho para reconhecimento e estudos. A missão também almeja experimentar um método para produzir oxigênio utilizando a atmosfera marciana e também novas técnicas de aterrissagem para futuros astronautas. 

A sonda, que pousou no dia 19 de fevereiro deste ano na cratera de Jezero, completou mais de 100 dias em solo marciano. Obter êxito nesta missão é importante para que a NASA consiga concluir seu ambicioso projeto de enviar pessoas para Marte até 2030.

Leia também: NASA’ Perseverance Rover on Mars

CHINA

Em duas décadas a China ultrapassou o programa espacial russo e está perto do americano. Com planos de lançar em 2024 um telescópio espacial com uma amplitude 300 vezes maior que a do Hubble, que será capaz de vasculhar ainda mais o espaço, os chineses estão animados para dominar o espaço. Eles enviaram uma sonda para o lado oculto da Lua em 2019, fizeram plantas brotarem em solo lunar e, agora, chegam em solo marciano.

China divulgou as primeiras imagens tiradas por seu rover em Marte
Uma das primeiras fotos tiradas pelo rover chinês. Fonte: Administração Espacial Nacional da China

No dia 14 de maio a China pousou uma sonda em Marte, esta  possui um orbitador, um módulo de pouso e um rover. A missão Tianwen-1 é a primeira interplanetária da China. Lançada da Terra em julho de 2020, a sonda entrou na órbita de Marte em fevereiro de 2021, orbitou três meses por lá e após se separar do orbitador, pousou na região conhecida como Utopia Planitia no hemisfério norte de Marte. 

O plano é que o rover, chamado Zhurong, equipado com duas câmeras panorâmicas, um radar de penetração no solo, um detector de campo magnético, um instrumento meteorológico e um laser, fique 90 dias no solo a procura de sinais de gelo e água, estudando a composição da superfície, características do clima e do ambiente. O orbitador tem o objetivo de mapear a morfologia e a geologia de Marte, avaliar as características do solo e distribuição de água e gelo, coletar dados sobre a atmosfera, campos eletromagnéticos e gravitacionais de Marte.

EUROPA E RÚSSIA

A ExoMars 2020, missão da Agência Espacial Européia (ESA) em conjunto com a Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos), tem como objetivo iniciar a colonização de Marte e procurar possíveis sinais de vida. Programada inicialmente para 2020, precisou ser adiada para 2022, pois, supostamente, alguns componentes da espaçonave ainda precisavam passar por mais testes antes do lançamento final. A missão deve levar um rover europeu e uma plataforma científica russa para Marte. 

A missão do rover é explorar o planeta e o seu subsolo, realizando extrações de amostras a uma profundidade de até 2 metros. O objetivo é retirar material que está fora da superfície de Marte, que sofre radiação, e verificar se há evidências de que houve vida no planeta. 

Em conjunto com a NASA, a ESA pretende trazer para a Terra amostras coletadas e fazer análises mais completas e aprofundadas em seus laboratórios. No ano de 2016 as agências já haviam trabalhado em conjunto no lançamento da missão ExoMars Gas Orbiter, que tinha como objetivo monitorar os gases de Marte. 

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS

Desde o nascimento da Agência Espacial Emiradense em 2014, sonhava-se em enviar uma sonda até Marte. Anunciada em 2017, a missão Hope é um dos passos para o estabelecimento de uma colônia emiradense em Marte até 2117. 

Al-Amal em órbita

Lançada em 2020, a sonda Amal foi a primeira de uma série de sondas inseridas na órbita de Marte em 2021. Carregando uma câmera sensível a comprimentos de onda visíveis ao olho humano até ultravioletas e um espectrômetro ajustado do infravermelho à luz ultravioleta, a missão deve durar dois anos e a sonda deve estudar o clima e realizar um mapeamento global do planeta. O planejado era que em maio de 2021 a nave fosse realocada em outra órbita para  obter dados de fenômenos atmosféricos com o auxílio de equipamentos, os quais seriam posteriormente estudados. Eles almejavam observar como átomos de hidrogênio e oxigênio saíram do planeta e foram para o espaço, além de analisar o clima na superfície. Esses estudos devem nos ajudar a entender como Marte perdeu parte de sua atmosfera ao longo dos últimos bilhões de anos. 

O lançamento em 2020 foi programado para comemorar o aniversário de 50 anos dos Emirados Árabes Unidos. De acordo com o líder da missão, o objetivo principal não é estudar o planeta vizinho, mas sim acelerar o desenvolvimento acadêmico do país.

Assim como o mundo vivenciou uma corrida espacial nos anos da Guerra Fria, a sociedade vivencia uma nova corrida espacial. O mundo não está preocupado somente com a liderança da China ou de outros países, mas também com o que podemos fazer com as novas tecnologias desenvolvidas. No caso da China, como as forças militares de Pequim controlam a maior parte dos programas espaciais, há grande apreensão de que seu objetivo seja, na verdade, usar seus modernos sistemas de lançamento para reunir informações sobre seus adversários ou para bloquear tentativas de outros países de fazerem o mesmo. Porém, uma coisa é certa, a corrida espacial contribuirá de forma decisiva para a evolução tecnológica neste novo século.

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Por Kássia Carvalho

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